11.6.23

Diário de Bordos - Estellencs, Mallorca, Baleares, Espanha, 11-06-2023

Venho a Estellencs e chego suficientemente cedo para ter lugar no estacionamento (por atacado terá dez lugares, se tanto), mesa no xiringuito e este vazio ou quase. Alemães só um casal e calado. O resto é um jovial grupo de locais que fala maiorquino, essa língua que começa a tornar-se-me simpática. Ainda não está calor suficiente para pôr o fato de banho. Aproveito para pôr a escrita em dia. Ou melhor, as escritas: a propriamente dita e a fotográfica, que também é escrita como de resto o nome indica.

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As mudanças permanentes, as curvas e contracurvas e - naturalmente - as alterações climáticas não são muito boas para o meu ombro direito. Felizmente a beleza da paisagem compensa largamente a dor. Ou deveria dizer «justifica»? No pain no gain (em inglês para se manter a rima), não é? Não sei. Ganharia o mesmo sem esta porcaria deste ombro, mas é verdade que assim ele age como o picante na comida: aguça os sentidos.

Adenda: «sem dor não há amor»...

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Neste xiringuito comia-se maravilhosamente. Como o senhor é o mesmo ainda se deve comer.  Também com esta vista não há comida má. Hoje nem falta um tipo fundeado, um belíssimo sessenta pés, mais coisa menos coisa. É raríssimo ver gente fundeada aqui e este, assim solitário e belo, acrescenta à beleza. 

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Feitas as contas, a minha xenofobia latente (e ou nascente) pode esperar. Não houve mais alemães, nem alemão aos gritos - aquilo é uma língua que não pode ser sussurrada - nem, é pena, alemoas aleboas. Na mesa ao lado instalou-se um grupo de três franceses e foi tudo. Nunca vi aquilo tão pouco cheio e dou graças a Deus pela avaria no aquecimento global, pelas alterações climáticas e pela malvadez do heteropatriarcado.

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O trampó não estva grande coisa, mas a culpa era do tomate. Com tomate correcto teria ficado excelente, mesmo não passando de uma salada com nome exótico.

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Saí de Estellencs logo a seguir ao almoço, não parei em Banyalbufar, nem mesmo em Valdemossa e vim directamente para casa. O carro explicou-me que eu tinha de dormir a sesta e ele de descansar um bocado, farto que estava de subidas, descidas, mudanças, curvas e contracurvas. Obedeci-lhe, claro: o material tem sempre razão. 

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