30.6.23

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 30-06-2023

- Xisco, o homem que cozinhou esta carne (plumas de cerdo) vai para o céu.
- Luís, não é um homem, é uma mulher. E tem um cu que quem vai para o céu és tu, quando o vires.

O diálogo não é verbatim, mas é fiel. O que eu não percebo é como ainda há quem queira transformar isto numa Suécia. Eu não quero.

Verdade seja dita: nesta cidade não há canto em que um gajo não ponha os olhos num cu que o leva ao céu (cu sendo aqui uma metonímia. Não quero que os meus leitores pensem que sou obcecado por uma parte especial da anatomia feminina. Não sou. Não há nada na anatomia de uma senhora que não me leve ao céu, elevador expresso como os dos arranha-céus).

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Jantar no Lo Divino. Não é só a anatomia feminina que me leva ao céu. Na verdade, todas as estradas levam a ele: um corpo, um jantar, um livro, um poema. Basta respirar, no fundo.

E ter olhos para ver.

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A funcionária da gestoria que contratei para tratar dos P. (pai e filho) esteve uma semana de baixa. Quando tentamos explicar a quem não é deste meio que os factores que nós controlamos são uma parte ínfima de todos aqueles com que lidamos as pessoas pensam que exageramos. Não exageramos. Antes pelo contrário: somos púdicos e escamoteamos uma grande parte da realidade. Questão de não expormos a toda a gente a nossa pequenez. A nossa impotência fundamental, basilar.

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Falo da beleza das estradas hiper-secundárias de Maiorca, das surpresas que nos reservam, mansões escondidas no meio de nada. R. acrescenta que aqui as estradas estão limpas, ordenadas, arranjadas. Na Sicília (de onde é originário) «parece uma guerra». 

A ordem é atraente. É magnética. E nós somos como limalha atraída pelas suas linhas de força. Entropia e neguentropia: oscilamos entre uma e outra como uma criança num baloiço. Que não dirigimos, como ela não o controla.

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