Atravesso uma rua em Évora, larga de um carro e metade de outro. Não há uma passadeira à vista. Forço um carro a parar, a jovem condutora (trinta e poucos é jovem, não é?) faz um gesto exasperado. Agradeço com um amplo gesto, mão ao chapéu - sou incapaz de fazer um manguito a uma senhora - e penso "Que vai ela fazer, que não pode esperar trinta segundos?" Estatisticamente esta senhora vota PS e se calhar é contra a discriminação. Só que um peão para ela é pouco menos que nada. Face a uma viatura não tem direitos, só deveres. E a uma gentileza responde-se-lhe com um levantar de braços (vá lá que não buzinou).
Não se pode dizer que eu seja grande fã deste povo ignaro, incivilizado e bovino. Infelizmente, é o único que sabe fazer carne de alguidar e migas alentejanas como as que acabo de comer no Café Alentejo, abençoado seja.
Que vá a jovem à sua vida, não faça esperar um amante impaciente ou um marido ciumento. Eu vou à minha: migas, vinho tinto e beatitude (ou aquilo que agora passa por tal).
Porque sim, o Café Alentejo continua a ser um porto de abrigo, uma bênção, uma benesse, uma dádiva, um éden, um recreio de deuses (e para eles também, que assim nos sentimos quando acabamos de comer). Vale milhares de senhoras impacientes.
E o licor de poejos, meu Deus! O licor de poejos... É como as hierbas secas do outro, mas com mil memórias associadas. Ora é do conhecimento geral que cada memória acrescenta um ponto de gosto (a qualquer coisa que já o tenha).
(Cont.)
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.