14.8.23

Diário de Bordos - Ramsmora, ilha de Ljusterö, arquipélago de Estocolmo, Suécia, 14-08-2023

Da Suécia não vi ainda nada senão o suficiente para perceber que o que vi confirma ponto por ponto a imagem que fazia do país, apesar de só o conhecer dos filmes do Bergman e de artigos de jornais e revistas. Autoestradas com um controlo feroz da velocidade e do álcool, diz-me o P.; uma marina no meio de nada, versão nórdica de Shelter Bay; um shipchandler aonde fui comprar sapatos caríssimos - só tinham Dubarry, Sperry e Sebago, venha o diabo dos pobres e escolha; restaurantes que fecham às nove da noite. Felizmente um deles pertence a um brasileiro e lá conseguimos comer (um prato de salmão com batatas cozidas num molho que não sei nomear). E beber: três copos de vinho cada um. Não sei quanto foi, mas sei que foi caro e que o salmão estava bom.

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A época está a chegar ao fim e tudo está triste e vazio. Já eu não estou nem triste nem vazio. Estou ansioso e cheio de não sei quê, uma combinação que em mim nunca resulta. A viagem alegra-me e atenua a ansiedade pandemónica. Há muito tempo que sonho com ela. Só é pena ter ficado a tão poucas milhas dos sessenta graus norte (trinta e duas, se por acaso). É a latitude mais alta aonde estive até hoje, em qualquer dos hemisférios. Ainda um dia farei a costa da Noruega. Se possível vestido de amarelo e com um estojo de violino numa das mãos. 

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A embarcação é um Najad 38. Podia ser pior, muito pior. O P. quer largar amanhã e ir para outra ilha, a quinze milhas daqui. Mas também quer ir a Estocolmo comprar um cortador de cabos para o veio do hélice; e fazer compras; e arrumar o  barco; e fazer uma vistoria a tudo o que temos a bordo. Disse-lhe que se estivermos prontos até às cinco saímos, depois disso não. 

Apesar de por mim saíamos a qualquer hora. Shelter Bay sem macacos roncadores e com treze graus centígrados de temperatura não é Shelter Bay não é nada. De qualquer maneira, aparentemente a navegação nestas ilhas é de olhos na carta (ou no plotter, mais precisamente). Venha ela, que muito precisado estou.

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Um hip hip hooray para a minha neta Adriana, que um dia será muito mais bonita do que é hoje, coitada, que mal acabou de nascer.

Mas lá que é comovente e enternecedor olhá-la e tê-la nos braços é, e muito. Ainda ontem a vi e já estou com saudades dela, raio da miúda.


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