26.8.23

Diário de Bordos - Scheveningen, Países Baixos, 26-08-2023

Saio do camarote e a temperatura é  de catorze graus. A máxima vai ser de vinte. Nada mau, para um dia de Agosto.

Como de costume, o aquecimento global está onde eu não estou. Esta coisa das alterações climáticas está mal feita. O que deviam fazer é misturar todas as temperaturas, distribuí-las igualmente pelo planeta e só depois, se fosse preciso, aquecê-las um bocadinho, algures para cima dos vinte e cinco e abaixo dos trinta. Aí sim, teríamos um planeta que seria um paraíso e não esta espécie de coisa moribunda por causa do malvado do homem, fria nuns sítios, quente noutros. Além de que isso promoveria a igualdade e a inclusão,  acabaria com o racismo e faria mais pelas mulheres do que duas Calamity Jane juntas.

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Há uma classe profissional cujo trabalho consiste em zelar pela nossa segurança. Os membros (salvo seja) dessa classe consideram, justa mas infelizmente, que coçar os tomates e bater punhetas a grilos não chega para justificar o salário que nós, aqueles por cuja segurança eles tão zelosamente zelam, lhes pagamos. Vai daí, começam a produzir regulações. Em nome da segurança, claro. E provavelmente porque já não têm tomates para coçar. Portanto regulam. Isto é, fazem merda.

À nossa frente está outro Najad, um trinta e seis. O dono tem de fazer um compartimento para as garrafas de gás, que segundo os batedores de punhetas a grilos não estão bem lá onde estão. E onde estão? No paiol da amarra (o aitio onde se guarda a corrente do ferro, para quem não sabe).

Ontem ao jantar - no meu caso, uns mexilhões que fizeram jus à reputação da cozinha holandesa ser a pior do Ocidente - foi esse o tema de conversa. P. está de acordo com a asfixia regulativa, claro. Respondo-lhe que tem de se pôr um termo, um limite. Não tarda, as cadeiras dos restaurantes terão cintos de segurança, não vá alguém cair e magoar-se. Não se pode querer acabar com os acidentes, nem com o erro, nem com as coisas que se desviam do plano. Isso é o sonho de quem não tem mais nada que fazer - e o pesadelo de quem tem uma vida para viver. 

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