«As coisas estão com bom aspecto», murmuras-me ao ouvido. Não sei a que «coisas» te referes e pergunto-te: «Que coisas? O que ou quem são as coisas? Como distinguir as coisas que "têm bom aspecto" das que o não têm? Pelo cheiro? Pelo tacto? Pela visão?» Passo em revista tudo o que não tem «bom aspecto» e concluo: é o mar que confere às coisas o bom aspecto que lhes atribuis. Dois dias no mar e tudo fica com um «aspecto» como novo. Ou invisível. Tudo desaparece debaixo destes movimentos desordenados do A. S., deste cinzento meio azulado que vejo pela escotilha do camarote, desta dúvida: valerá a pena desenrolar pano? Durante quanto tempo terei a maré a favor? O mar abraça-te e nesse abraço abafa tudo o que não lhe pertence. É a essa ausência que chamas "coisas" e atribuis "bom aspecto".
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.