Consegui finalmente vir jantar ao Viñedo de Tito, uma casa que por qualquer razão tinha na memória, provavelmente inventada. Gosto destas memórias, coisas que repescamos nos esconsos da outra, da verdadeira e nunca sabemos de que campo são. O sítio é como esperava: uma tascazita pequenita, cujo dono é o Tito ele mesmo, as porções demasiado grandes para a fome que tenho e a comida (pelo menos a julgar pelo bife que comi) bastante boa. É difícil imaginar a senhora que cozinha fazer comida má, de passagem seja dito. Deve ser a mulhet do Tito. E a empregada filha deles, imagino, apesar de ter um bom palmo de altura mais do que o putativo pai. Não menciono as portentosas mamas da rapariga porque acho de mau gosto e machista reduzi-la a elas, mas realço-lhe a simpatia, a eficácia e o sorriso, contagioso como todos os bons sorrisos - se bem aposte que o meu é menos belo.
O Viñedo de Tito vai juntar-se ao Trastero, ao Almacen do qual o "Vermute preparado" é uma maravilha, ao Ó Sampaio aonde almocei - e provavelmente à grande maioria de cafés, bares e restaurantes desta cidade: são todos bons, recomendáveis, adoráveis.
Chove e vai chover a semana toda: não há bela sem senão.
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O Tito simpatizou comigo e serve-me uma dose de orujo do tamanho de um copo de água. Há uma espécie de comunicação infra-verbal entre pessoas, um bocado como quando sintonizamos uma rádio na frequência exacta.
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Fenómeno esse que pouco a pouco vai acontecendo com o P. Conheço-o bem (pelo menos na área restricta em que estamos agora), aprecio-o (em terra mais do que no mar, mas hoje pensava que já mudei bastante e não tarda terei paciência para as hesitações dele, que no fundo são compreensíveis. O que na verdade me chateia é ele não me ouvir tanto quanto eu penso que devia. Maldito ego...)
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Algo me diz que esta noite vou precisar de Rennie's. Maldita azia...
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O Viñedo de Tito tem uma televisão mas prefiro olhar para as miúdas da mesa ao lado. São giras, ligeiras como a térmica da tarde no Mediterrâneo. Que fiz eu dos meus vinte anos?, começo por pensar. De seguida mando calar o pensamento, por vergonha e pudor.
À pergunta desta manhã, "deixamos uma vida por viver?" acrescento uma resposta: "Vida por viver não sei, mas mulheres por amar sim, deixamos muitas. Cada vez mais, à medida que elas vão crescendo." E nós envelhecendo, claro, mas isso são contas de outro rosário.
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Já só falta pagar. Amanhã o Tito estará fechado? Aberto? Não sei.
Está, mas só de manhã. De passagem, meu caro. De passagem.
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Acabo no Tarabelo para beber um Ribeiro turbio ("a única maneira de resolver uma tentação é ceder-lhe", Oscar dixit) e de passagem (lá está) leio La Voz de Galicia, jornal regional s'il en est.
Vem-me imediatamente à mente a canção de Lou Reed sobre viver numa cidade pequena. Eu venho de um país pequeno. Nada se pode fazer contra isso.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.