11.10.23

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 11-10-2023

«Pareço um caçador de ausências», escreve-me a M. E., que não se lembra do autor da frase. São bonitas (a frase e a M.) Toca-me particularmente (a frase): passo a vida a caçar e fugir de e a lutar com ausências, de resto um tema frequente neste DV, coitado. Ausências, esperas... même combat, diria se fosse francês ou de ali perto. E se fosse dado a optimismos, como sou. Entre a espera e a ausência o muro é estreito, não chega sequer para me sentar nele. Desabaria imediatamente.

Não me sento nesse muro. O objectivo agora é construir paredes, muralhas, pilares: refazer o passado, essa mãe de todas as ausências, ordená-lo e dar-lhe sentido. Como, escrevi uma vez e é hoje mais verdade ainda do que quando o escrevi, um arquitecto que fizesse os planos da casa uma vez esta cosntruída. Verdade seja dita, é normal que hoje seja mais verdade: a casa está muito maior. O arquitecto precisa de mais tempo e de mais cuidado, de maiores e mais fortes muralhas. Talvez assim retenha as ausências.

(Para a M. E.)

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Hoje pus mais um pé à frente do outro na equipa «Registo». Com sorte, daqui a duas ou três semanas tenho o registo feito. Depois passamos à fase da classificação. Depois estamos prontos a largar, porque de qualquer forma sem retranca não há classificação, o surveyor foi claro. Quer ver o P. a navegar à vela.

Mais do que eu não quer.

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O Hamas tem uma qualidade: expõe à luz do dia os Eichmann todos de quem somos amigos, com quem trocamos comentários, que apreciamos, com quem convivemos ou até sentimos ternura e afeição. A pergunta que fica no ar é: que aconteceria comigo, se esses «funcionários insignificantes» (aspas porque cito) tivessem um dia poder sobre mim?

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Apoiam o Hamas porque não podem apoiar Hitler abertamente.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.