5.10.23

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 05-10-2023

Lórien é um desses bares especializados em cerveja - há quem lhes chame cervejarias, mas enfim - o que explica que até hoje só aqui tenha vindo duas ou três vezes, esta incluída. Tem comida parca e barata, o que seduz um tipo que acaba de descobrir a frugalidade. Descoberta forçada, é verdade e demasiado recente para ser correctamente apreciada, mas descoberta. O estranho nisto tudo não é eu ver-me a beber cerveja - às vezes acontece - e esta súbita necessidade de alargar os limites do meu ecossistema, agora que sinto a hora da partida no ar e ele, o ecossistema, me parecia consolidado e delimitado. 

O bar está cheio - escrevo ao balcão e à frente do «piano» das cervejas - o homem é simpático, sabe o que é uma Smithwicks (pedi-lhe a cerveja mais parecida com essa que ele tem e acertou em cheio) e agora provo uma IPA (Indian Pale Ale, para quem não sabe) feita em Menorca, menos boa do que as primeiras, mas isto de gostos e cores.

Lórien vem do nome de um livro cujo nome já não recordo - ouvi-o há mais de cinco minutos - e vou ter de googlar porque me lembro do autor mas não do título (Tolkien e Senhor dos Anéis, respectivamente. Tenho de ler isto um dia).

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O «meu» P. tem neste momento dois estaleiros importantes («projectos», como agora dizem os que importam anglicismos) para ficar pronto: a retranca e tudo o que ela envolve e o registo. Qualquer dos dois são comboios em movimento. Há ainda uma miríade de pequenos «projectos» mas com esses preocupo-me pouco, são coisas simples. O pior são estes dois. O Janosh disse-me que admirava a minha persistência. Há dias em que até eu a admiro, Janosh! E me espanto.

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O tempo está óptimo, ainda há turistas mas as ruas já não estão a abarrotar. Alguém - que não o pode fazer - dizia-me hoje que não se importaria nada de viver em Palma. Ninguém se importaria, respondi. Até eu, que não vejo a hora de me pôr a andar e estou mais ansioso por vê-la chegar do que um baptista pelo baptismo. Temos que fugir daquilo que amamos, não é? Se não somos engolidos, deglutidos, transformados, metamorfoseados - tout en continuant à l'aimer, ça va de soi. Estranho exercício de desiquilibrismo, este de amar.

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Amanhã encontro-me com a P. à tarde na Rambla e com a U. depois, no bar Rita. Ver se reato com a vida social, que já tive e pouco a pouco fui abandonando. Não sei porquê mas tão pouco tempo perco a perguntar-mo. Basta usar o telefone para telefonar e não só para ler artigos e facebooks.

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A noite acabou (acabou?) da maneira mais palmitana possível: apetecia-me fumar um cigarro, fui ao 7 Machos porque sei que o Alex os tem, bebi um mezcal e uma margarita, aprendi uma série de coisas - incluindo a receita de um spaghetti com ouriços do mar que juro, juro jurado vou experimentar - e vim para bordo saciado: viver é saber que estamos de passagem, qualquer que seja o nível da passagem.

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Programa para amanhã: Radu, retranca e registo. A minha vida parece uma música do Philipp Glass.

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