4.10.23

Dispersas de hoje - Palma, 04-10-2023

Fui deixar oito calções Napapijri a uma loja de roupa em segunda mão. Estão-me grandes. A porra da injecção que me tira o apetite fez-me emagrecer uma quantidade séria de quilos. Vejo pelos calções, pelas calças e pelo cinto que os sustenta, ao qual não paro de acrescentar furos. Pelos calções é fácil de ver: comecei no quarenta e já vou no trinta e quatro. Os que deixei hoje na loja são os trinta e oito e os trinta e seis. Quatro de cada. Os quarenta ficaram em Lisboa (e provavelmente alguns dos outros também). O meu guarda-roupa de Verão é constituído por cinco calções (na verdade seis, mas isto não é um inventário) e dez pólos brancos. A senhora mostrou-se interessada nestes, também os tenho em excesso - mas não por causa do tamanho. Vou ver quantos lhe posso levar na segunda-feira. Tenho uma quantidade absurda deles. Agora vem o Outono e entram as camisas de linho brancas. Tenho cinco, uma para cada dia útil da semana. No Inverno, aos sábados e domingos visto outra coisa. Às vezes penso que andar sempre vestido da mesma maneira é sinal de falta de imaginação. Mas enfim, é um uniforme: polo branco e calções azuis Napapijri porque são os melhores e só os compro nos saldos - e a Rossella ainda me faz um desconto, para além dos saldos. No outro dia disse-me para levar uma cor diferente, "para variar", e eu fiz-lhe a vontade. Sou um rapazinho obediente e o que visto é-me relativamente indiferente, por assim dizer. Antigamente gostava de comprar gravatas e tinha uma bonita colecção delas. Hoje não as uso, graças a Deus. Gosto deste uniforme e lamento não o poder usar para as outras coisas que faço. Não gosto de andar de calções em Lisboa, por exemplo. Em Genebra ainda passa, porque lá sou turista. Em Lisboa não sou, mesmo estando de passagem (retenham esta expressão: De Passagem. Em breve haverá notícias). Enfim, tudo isto para dizer que invejo as pessoas que percebem de moda, de computadores Apple e telefones iPhone. Há pouco vi no FB um post de uma senhora que percebe imenso de moda. Eu não percebo. A quantidade de coisas de que não percebo nada tiraria o fôlego a um soprador de vidro, se tivesse algum a ouvir-me. O post era sobre uns sapatos chamados Sabrina. Pensava que sabrinas são coisas que se usam para o ballet, mas afinal parece que se podem usar no escritório. Há outra razão por detrás deste chorrilho, não  apenas os sabrinos, ou sabrinas: a Rossella disse-me para não passar abaixo do trinta e dois. Às vezes imagino-me a emagrecer sem parar, como num filme francês que vi há imenso tempo. Era um daqueles grandes actores frances, não recordo o nome. Claude? Marcel? Não sei. Pouco importa. Sei que vou ter de ir jantar a qualquer sítio, mas não sei nem onde nem o quê. Falei com a Rossella sobre a comida (fui comprar dois trinta e quatro, só tinha três e o meu guarda-roupa... Espera, já falaste nisto). Tirou-me sete euros a cada um. Estás a desviar-te. A Rossella disse-me para só comer qualquer coisa de que goste muito. Passei pelo Fidel, mas não têm vitello tonato. Vou comer uma spaghettata qualquer. Deixo metade, seja o que for. Vá lá que pelo menos consigo beber. Pergunto-me quanto me vão propor pelos calções. Seja o que for, é uma boa indicação do valor de mercado daquilo. Na Mercanautic Segunda Mano oferecem um terço, valor que me parece correcto. Não sei se na roupa a proporção é igual. Se for muito baixo vendo-os na página do Radu. A minha grande feira de fim de refit vai ser virtual? Mas que vou ter o Vicenç a tocar vou. Já estará frio e levarei uma camisa de linho branca e umas calças azul escuro. Isto não é só um uniforme. É falta de imaginação. Ou de interesse, não sei.

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Afinal a "spaghettata qualquer" transformou-se nuns scaloppine alla marsala all'uovo no Gigi's Piccolo, Ristorante, o da slow food e da cozinha com amor de que guardo uma terna recordação da primeira e única vez que aqui estive. Por muito que se considere a cozinha italiana uma praga - é (não é a cozinha. São os restaurantes) - a verdade é que está imediatamente atrás da francesa, quase ao lado e quando se está desorientado (gastronomicamente falando, claro) é um porto de abrigo seguro. A ver como vêm os escalopezinhos. Pedi à senhora uma porção pequena porque detesto deitar comida fora. Pergunto-me se não seria sensato deixar de ir a restaurantes aonde se come bem (e barato) e começar a frequentar só os horríveis. Sempre seria mais fácil deixar comida no prato. 

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O conselho da Rossella surtiu efeito. A carne foi praticamente toda. As batatas quase. Só o tomate regressou intacto. Este restaurante vai entrar no meu ecossistema e aí ocupar lugar proeminente. 

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Penso na miúda francesa que vi hoje no Mercat de l'Olivar, vestida com um mau gosto de fazer doer. Vista pela alheta viam-se-lhe as mamas, caídas até ao umbigo. Vinte e poucos anos. Por agora ainda tinham um pouco de volume mas não tarda ficarão aquilo a que o meu Pai chamava sacos de café. Será que percebia de moda? As duas amigas que a acompanhavam estavam vestidas normalmente (e eram menos jeitosas, mas isso é outra história).

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