O almoço foi uma rouille de seiches "à la martiniquaise": enchi aquilo de cebolinho, pimenta da Jamaica (aqui chamada bois d'Inde) e malaguetas. Uma das poucas vantagens que vejo em viver sozinho é poder fazer a comida picante como gosto dela. Gosto muito. E acompanhá-la com a música de que gosto: primeiro medieval, depois barroca - duas espécies de rock avant la lettre.
De maneira oiço os Concertos para Oboé do Bach, saboreio a posteriori todas as matizes da rouille - feita e acompanhada com um Bourgogne Aligoté, não vá o diabo tecê-las.
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Pouco a pouco, descubro uma condição que me era fugidia: a paz. Não sei de onde veio, nem se veio para ficar. Mas sei que está aqui agora e que ela nunca saberá quão grato lhe estou, por pouco tempo que fique.
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Esta paz é simultaneamente uma fuga para dentro e outra para fora: estou bem comigo e quero partilhar este bem-estar com outra pessoa. Estou bem sozinho mas estaria melhor com uma destinatária no outro lado das palavras, para não andarem desnorteadas, coitadas.
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A música devia ser toda assim: ouvida trezentos anos depois de se composta. Ou mil.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.