4.2.24

Diário de Bordos - Fort-de-France, Martinique, DOM-TOM França, 04-02-2024

Como é que se descreve um dia vazio?

Fácil: começa-se por perguntar «a que chamas vazio?» Este de hoje foi vazio? Porquê? Comecemos por ordem cronológica, evitando as primeiras evidências do dia:

- Arrumar as coisas que ontem trouxe do carro;
- Preencher mais uma plataforma - quem pensa que uma plataforma é como um anúncio numa revista está redondamente enganado. Triste e desoladamente enganado;
- Ir buscar o resto das coisas ao carro e arrumá-las a bordo (isto parece fácil, mas exigiria um post dedicado, para que as pessoas percebam bem os alea desta vida);
- Preparar o almoço;
-  Falhar uma maionese (não é de estranhar. Ando meio menstruado e toda a gente conhece a influência perniciosa da menstruação na maionese);
-  Transformar a maionese falhada num vinagrete mais do que réussi (ia dizer milagroso mas tem demasiado vinagre para isso);
-  Almoçar;
- Rearrumar as velas do cockpit e pensar no que raio de carga de água vou fazer com elas. Uma embarcação de vela não é uma mula, com um raio!;
- Sesta;
- L'Impératrice.

Isto conta como dia vazio?  Conta. Tudo o que não seja duas semanas de charter amanhã é um dia vazio.

No Impé a senhora gorda com quem gosto de discutir esclarece-me que só têm cerveja em lata de cinquenta cl. porque «passaram em modo carnaval» (a tradução é minha). Fico esclarecido, peço uma Lorraine, provoco-a um bocadinho só para ela não se esquecer de mim e pergunto-me muitas coisas. Uma delas é: «quando raio de carga de água é que os últimos traços desta estúpida operação se desvanecerão?» A primeira resposta é: «teoricamente, daqui a duas semanas.» A segunda é mais simples e tem uma só palavra cuja inicial é um F maiúsculo. Os mais sensatos acrescentariam «Estou farto!» mas não sou sensato e não gosto de redundâncias.
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Vou perguntar à senhora gorda se tem pão, só para lhe dar o prazer de se vingar da pequena provocação de há bocadinho. E ainda há quem diga que não penso nos outros. PS - deixei-lhe uma boa gorja. Dizer «não» é insuficiente como vingança.

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O próximo Inverno vai ser passado em St. Martin. Está decidido. O meu adeus às Caraíbas vai ser feito por fases.
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PS - António Lobo Antunes não faz parte da prosa portuguesa recente.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.