A maionese não me saiu muito boa. Quando muito, boa. Já fico contente: é sinal de que a minha menstruação está a passar. Ou no meu caso, como dizia uma piada da minha infância, monstruação. Deve estar a acabar. Para acelerar o processo procuro os Cânticos da Liturgia Eslava no Youtube pelo coro dos monges de Chevetogne, farto de saber que não há o disco da Musique d'Abord completo. Não faz mal: oiço o que há e penso no que falta, como na maionese penso no que falta - na verdade, no que está a mais - para ter ficado muito boa e não só boa. Penso também no clarete de Bordeaux com que acompanhei os fish fingers, nos runs com que os precedi, no prazer que me vai dar ir no sábado para o Marin sem motor mas com o T. para me ajudar e talvez um vizinho de pontão, vamos ver, dar-me-á uma resposta amanhã. E eu que sonhava com navegar por essas ilhas fora...
Não me queixo. Mais vale este Inverno do que muitos que tenho passado nos últimos anos. Pelo menos posso escrever frases infindas, com montes de vírgulas em tudo quanto é sítio, ao ritmo dos cânticos, não há melhor maneira de nos ligarmos à eternidade, digam o que disserem. Não é ligar. É entregar. Não há melhor maneira de nos entregarmos à eternidade, mesmo para um ateu como eu. Não tem nada a ver, não depende sequer do nome que se dá à eternidade, seja ele Deus seja outro qualquer, como amor, por exemplo, ou mar, ou vida ou seja lá o que for desde que seja profundo, infinito e azul. Sim, azul. É a cor do infinito, a cor infinita. As outras não passam de Pantones.
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Fiz queixa do puto do Impératrice. No sábado excedeu-se. Fi-lo não só por estar verdadeiramente chateado com ele mas também por curiosidade. É a segunda que faço aqui. A primeira foi contra uma empregada de uma agência de rent-a-car. Serviu para demonstrar que a rapariga tem as costas quentes e - sobretudo - que nestas latitudes há valores mais importantes do que o serviço ao cliente. Pergunto-me se desta vez o resultado vai ser o mesmo. Enviei uma queixa à direcção do hotel - duvido muito que chegue - e outra à direcção do turismo. A ver vamos, como dizia o ceguinho. Aceitar certas coisas porque são pretinhos ou porque não sabem é uma forma de racismo e de paternalismo que não suporto. Estou-me nas tintas para a cor da pele. Pode ser preto, amarelo, castanho ou encarnado - antes disso é empregado de mesa, ponto. Detesto esta espécie de racismo que consiste a desculpar pessoas por causa da cor da pele. Enfim, na verdade detesto todas as espécies de racismo. Como também, de resto, detesto os gritos de «racismo» quando o racismo não tem nada a ver com a causa dos gritos.
Na verdade falta-me uma enorme quantidade de paciência para o racismo, seja ele qual for. Sempre fui dermo-daltónico e não é agora que vou ficar sensível às dermo-cores.
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Afinal parece que o disco está todo no youtube. Há sempre um lugarzinho para o infinito, não é?
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Avanço no Labro, um nome que conheca muito mal quando andava por aqueles lados e agora lamento. O homem é brilhante. É uma espécie de faz-tudo: cinema, jornalismo, romances, rádio, televisão. Acho que o meu livro devia ter-se chamado Alheado, em vez de De Passagem.
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Hesito entre um rum e um copo de vinho e opto por lavar a loiça. Chama-se a isto pensar fora do copo.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.