"Eles" dizem que a mínima se fica pelos vinte e quatro mas a minha sensação térmica não passa dos dezanove ou vinte e tenho de me tapar. Vá lá que um lençol chega. Não me imagino com um cobertor por cima.
Por falar em sensação térmica: os media (não sei quais, não aprofundei) anunciam uma sensação térmica hoje no Rio de Janeiro de sessenta graus (tudo isto em Celsius, claro). A temperatura máxima foi de quarenta, coisa longe de ser rara naquela cidade. Os jornalistas - ou alguém por eles - foram buscar a sensação térmica, porque lhes permite, pensam eles, aumentar a credibilidade e por conseguinte as vendas.
Não quero entrar muito em pormenores, mas para uma sensação térmica divergir em cinquenta por cento da temperatura real, sobretudo positivamente, é preciso que o "sensor" esteja duas horas à torreira do Sol, cheio de cobertores e com um bom anorak, coisa que a maioria das pessoas sensatas evita fazer.
Aqui chegado, ajudado pelo frio percebi tudo. Como toda a gente sabe, o quociente de inteligência é uma média com uma distribuição bastante regular de cada lado da curva. Os "órgãos de comunicação social", contudo, pensam que o lado esquerdo do espectro (o das inteligências inferiores a cem) tem mais gente do que o lado direito. Vai daí, começaram a dirigir as suas publicações para esse segmento do mercado. As vendas começaram a cair e os ditos "órgãos" (aspas porque é irónico, nas duas ocorrências) analisaram, pesquisaram e hey, presto, encontraram a solução. Basta contratar, para redigir as notícias, pessoas que tenham algo em comum com o segmento alvo.
Assim nascem "notícias" (aspas porque é uma piada) como a da sensação térmica de sessenta graus quando o termómetro marca quarenta.
Não tenho a certeza que resulte, pelo menos na imprensa escrita, passe o pleonasmo. Contrariamente a ver televisão, ler jornais é uma actividade tradicionalmente reservada a pessoas do lado direito do espectro. Mas que é uma experiência louvável é. Humana. E é também uma inovação na área do marketing. O bom velho Kottler deve estar a bater palmas.
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