11.3.24

O espelho e as dúvidas

Tenho sessenta e seis anos e tenho andado a leste (e a oeste, a norte e a sul) desde que me conheço. O meu Pai tinha razão quando me acusava de "cultura livresca", de falta de contacto com o mundo real. (Ele tinha sempre ou quase, verdade seja dita.) O Facebook, para além de ter aumentado exponencialmente os meus conhecimentos de futebol recentrou-me os pontos cardeais (há dezasseis anos não sabia quem era o Ronaldo, por exemplo. Hoje sei e até o reconheço nas fotografias). Tenho um pouco menos a sensação de viver num "planeta paralelo" (aspas porque cito a minha filha).

Mas esta sensação é renovada todos os dias. Hoje aprendi, por exemplo, que há vestidos para morenas - e portanto para loiras, ruivas e acastanhadas, suponho.

Este conhecimento veio-me de uma senhora que percebe imenso de roupas e modas. Eu, cujo guarda-roupa de Verão consiste, integral e exclusivamente, em dez pólos brancos da Zara, C&A e - o último que me resta, o que prova que sou um rapazinho poupado - da Walmart e quatro calções azuis da Napapijri (comprados nos saldos, apresso-me a esclarecer) fico banzado. 

Será que é a combinação de cores adequada para o meu cabelo? Para o meu corpo sei que não é, mas isso não é difícil: nem nu me adequo ao meu corpo, quanto mais vestido. O Facebook, além de me ensinar coisas, faz-me pensar. Coisa essa de que não me queixo, claro. Toda a gente sabe que o cérebro, tal como o fígado e os bíceps, é um músculo. Quanto mais trabalham mais se fortalecem.

Devo começar a olhar para o espelho, tarefa enfadonha s'il en est. E de que, entre nós, duvido muito seja capaz.

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