O meu corpo é uma associação de membros e órgãos que não se entendem lá muito bem. Tento coordená-los e eles insistem em ir cada um para seu lado. É só graças aos tendões e às articulações que se mantêm juntos.
E à pele, claro, essa pele que tu habitas e teces pacientemente, todos os dias, todo o dia. À noite aplicas-te: fazes-me dela o relvado que os teus dedos escavam, percorrem, exploram, cada um deles em forma de ponto de interrogação. Essa pele que te ofereço, expectante, mantém-me inteiro, uno. É tua.
.........
Abrigo-me debaixo desta manta de retalhos: retalhos debaixo de outros, outros que és tu, mesma pele, mesmos dedos, mesmo frio, mesma hesitação. As vastas planícies da pele oferecem-se-te, horizontes embrenhados um no outro. Vastas planícies: até onde a vista alcança. Até onde o tempo chega.
.........
O tempo é um comboio que vai inventando paragens à medida que avança.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.