Roscoff é uma pequena cidade na Bretanha, «ville de caractère», segundo a placa à entrada quando se vem da marina. Passei aqui dois ou três dias há coisa de um ano e ainda me lembro destas ruas e respectivas casas, sóbrias, quase austeras (o quase deve-se às portadas pintadas de cores vivas, pied-de-nez ao nevoeiro, à chuva, ao frio e a tudo o que faz da Bretanha o que ela é). Pergunto-me se seria capaz de viver aqui e a resposta é veemente: não, não seria. Demasiado longe de Paris e demasiado perto de nada. Enfim, talvez de Brest - uma hora de carro, diz-me o Google Maps.
De qualquer forma é uma falsa questão e não tem nada a ver com o clima, com a austeridade das ruas - que não deixa de ser bela, de resto - com a distância à «cultura» (aspas porque é trocista). Cada vez me é mais evidente que não consigo viver longe da minha língua, por muito que o seu país me decepcione.
Na verdade, olho para trás - para muito longe atrás - e vejo que este dilema não é de hoje. É de anteontem, de antes de anteontem, de sempre. Tenho de começar a andar com a língua atrás, está visto. É um dilema que não sabia formular até há bem pouco tempo, daí tantas hesitações e tantos ziguezagues. A capacidade que ser capaz de exprimir claramente qualquer ideia tem de a tornar operacional é um fenómeno. Pergunto-me se os gansos, os bonobos ou as putas da orcas a têm. Estas últimas têm, de certeza. Bastaria explicar-lhes claramente que atacar-nos poderia ter custos. Infelizmente andamos a dar voltas ao penico em vez de lhes explicar clara e firmemente que os nossos lemes não são brinquedos.
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Em resumo: estou ansioso por chegar ao Porto.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.