6.10.24

Diário de Bordos - Lisboa, 06-10-2024

Se eu tivesse dinheiro comeria todos os dias no Gambrinus e no Solar dos Presuntos, alternadamente. Com umas escapadelas ao Chiringuito, claro. Felizmente não tenho e isso permite-me poupar uma fortuna em restaurantes. Venho portanto comer ao Alga, uma casa da categoria "Resistentes": não é gourmet, não é fusion, não é bio, não é glutenfree, os empregados são senhores respeitáveis e correctamente vestidos. Os preços condizem com tudo isto. Ainda há quem pense que eu sou gastador? 

O cozido à portuguesa do Alga estava uma maravilha. Um pináculo da cozinha tradicional nacional (refiro-me ao país, não à paisagem). Seguiu-se-lhe o competente caldo, para aconchego da alma e do estômago, por esta ordem.

Poder-se-ia talvez quiçá argumentar que quem teve na sua vida - e no seu palato - uma avó chamada Filipa e um cozinheiro Miguel (aquela em Portugal e em Moçambique, este em Cape Town e no mar ao largo da Namíbia - isto para não mencionar a Mãe Blá) é indiferente a clivagens país / paisagem. Seria eventualmente verdade se Lisboa não fosse Lisboa e não tivesse estas coisas todas - cozidos, amigos, restaurantes resistentes - mais bares e casas de jazz (ontem estava fechado, maldito seja o gás ou lá o que foi que provocou o fecho), táxis à la minute, livrarias como a Snob ou a Palavra de Viajante... paro aqui. A lista é demasiado longa. 

Portugal é Lisboa porque só em Lisboa se encontram todas as qualidades e todos os defeitos do ser português. Na paisagem eles estão bastante desequilibrados (com um forte pendente para um dos lados da balança. Adivinhe-se qual).

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O calcanhar de Aquiles do restaurante Alga é o vinho da casa. Hoje perguntei ao senhor quanto me cobrariam se eu trouxesse o meu vinho de casa.

- Nada. Traga à vontade.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.