De costas para o muro, com o pelotão de fuzilamento à frente, conseguiu fugir trepando a parede com a ajuda de dois balões de hélio que se lhe vieram amarrar aos ombros. Um terceiro esvaziara-se nos soldados, levando-lhes as balas que estavam dentro das armas.
- Estás a sonhar com ladrões - dissera-lhe A.
- E tu não sonhas, sequer - respondera.
A indomável verdade é que os balões o elevaram nos ares. Quando se viu livre das inexistentes balas deixou-se cair. Aterrou na cama de A., que o acolheu de braços e olhos abertos.
- Tem sido assim desde que a adolescência me deixou, sozinho e nu, face aos soldados todos do mundo. Salvo in extremis por três balões de gás. Às vezes quatro: reservo um para os sonhos.
A. não o levou a sério, claro. Este mundo não é para quem acredita no poder salvífico dos gases mais leves do que o ar.
Ou dos sonhos, pesados que sejam.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.