29.4.25

Diário de Bordos - Marigot, Saint-Martin, Antilhas Francesas, 28-04-2025

Ser marinheiro é saber - quando digo saber, quero dizer saber, sentir, viver na carne - que estamos quotidianamente confrontados a forças muito maiores do que nós, mais potentes. E que nós somos o elo mais fraco dessa imensa cadeia que nos liga ao universo. Aprender a conviver com isto, a viver isto com a distância que o Rudiard Kipling  aconselha ao seu filho é o que transforma um homem normal em marinheiro. Lidamos com o mundo como um toureiro com um touro particularmente vicioso: uma mistura de graça e esconjuro.

Hoje fiquei a saber que a peça que esparava para amanhã vai levar mais uma semana a chegar.

E como as desgraças nunca vêm sós, vêm aos molhos como cachos de uvas - das quais se faz o vinho, de passagem seja dito - hoje a península ibérica ficou sem energia e eu sem motor no fora-de-borda.

Em contrapartida - não há uvas sem vinho - tenho o problema da água no meu camarote resolvido e o comando do piloto instalado.

Parece pouco, não parece? Parece.  Mas se as pessoas soubessem o tempo que leva dar um passo para a frente e depois dar dois para o lado, um para trás e finalmente completar o passo inicial, que até agora ficara em suspenso - se as pessoas soubessem? Não. Se eu soubesse. Quem precisa de saber sou eu, não as pessoas.

Resposta: tudo leva um tempo infinito. E para enfrentar esse tempo infinito é necessária uma vontade infinita. Vinda do elo mais fraco.

26.4.25

Diário de Bordos - Marigot, Saint-Martin, Antilhas Francesas, 26-04-2025

Afinal ontem acabámos por não conseguir passar a ponte - eu pensava que a abertura seria às cinco da tarde e não foi, foi às três e meia - pelo que voltámos para Port Royal, aonde me pus de braço dado com o C. II. Jantámos a bordo - o W. fez uma massa deliciosa, como de resto é tudo o que ele cozinha - e de tão boa que estava ocorreu-me que vamos mas é ficar deste lado. É mais barato - não se paga marina - e mais civilizado. O problema sendo que também ficamos sem água e sem electricidade, mas com isso posso eu bem (apesar de a falta do indicador de nível do tanque de água se fazer sentir vivamente).

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Fazer o antifouling em Marigot permitiu-me poupar mais de quatrocentos euros ao armador, aos quais acrescem os quase setecentos da marina. Uma vez trabalhei para uma empresa na Martinique aonde era conhecido por «o skipper económico». É verdade. Um barco é um poço aberto no mar que se tenta desesperadamente tapar com dinheiro. Como não se pode diminuir o tamanho do buraco - há por aí algures um tipo com uma retroescavadora que não pára de o aprofundar - a solução é deitar menos dinheiro lá para dentro. Isto sem prejudicar a qualidade do que se faz. É deste equilíbrio que gosto. Ou será antes desequilíbrio?

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Não pára de chover e tenho a impressão de que nada está feito nesta merda deste bote. E quanto mais chove mais merda aparece para fazer. Estou furioso comigo e resolvi viar ao pub que mais detesto em Cole Bay com o objectivo legítimo e louvável de poder transferir parte dessa fúria para o mundo exterior. Comprei um maço de cigarros e a empregada ou dona ou lá o que é resolveu pôr-se de perfil para mim enquanto fala com outros clientes. Isso não vale, mulher. É jogo sujo.

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Há não sei quanto tempo que não ponho as gotas nos olhos. A sacana da carcaça não gosta de concorrência.

25.4.25

Diário de Bordos - Marigot, Saint-Martin, Antilhas Francesas, 25-04-2025

O aguaceiro está a acabar. O ar ficou fresco e respirável e assim vai ficar pelo menos um par de horas. O Sun (não sei se é nome se alcunha) já acabou de pintar as obras vivas, portanto não estou muito preocupado. Não tarda pára completamente de chover. Hoje voltamos para Cole Bay. Dois dias de oásis na parte francesa, que me souberam como este ar fresco e respirável sabe: bem. Ontem fomos jantar ao Bistrot Nu, para mim um dos melhores de Marigot. Mudou de dono, claro - o que é que não muda - mas mantem a qualidade. Já o almoço de hoje foi assim assim. Fui ao Bâteau Lavoir. Adoro aquele sítio mas vou limitar-me às bebidas. As accras estavam demasiado fritas e de bacalhau nem o cheiro tinham. Já o rum de tamarindo estava uma delícia e aposto que o planteur (versão francesa do rhum punch) é bom também.

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Mau maria. O aguaceiro recomeçou com uma fúria equivalente à do original. Daqui a hora e meia quero ir para a água, pá.

(Cont.)

24.4.25

Diário de Bordos - Cole Bay, Sint Maarten, Antilhas Holandesas, 24-04-2025

Ontem publiquei uma fotografia das provas de mar. Ou melhor: do almoço depois delas

(Diário de Bordos - Cole Bay, Sint Maarten, Antilhas Holandesas, 24-04-2025)

Comecei a escrever isto há dois dias. Ainda sei porquê: a fotografia era apenas uma pequena parte da realidade, como o são todas as fotografias. Naquele dia descobri que tinha o casco sujo que dava para alimentar o aquário de Lisboa (o grande, não o Vasco da Gama), que o comando do piloto não funcionava e confirmei que tenho uma tripulação porreira - é essa e só essa a parte da fotografia.

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Agora ando com a cabeça cheia de trabalho - quando digo cheia é um understatement - e uma mistura de reflexões sobre as diferenças entre vergonha e consciência em paz. Ou seja: entre movimentos para dentro e para fora, para o interior e para o exterior. A vergonha tem a ver com o mundo que nos rodeia, a consciência com o mundo que nós rodeamos. É um distinguo importante, mais ou menos semelhante à diferença entre ética e moral. 

Isto dito: trabalho, trabalho e trabalho e estou feliz com o meu trabalho. Não tem a ver com a falta de modéstia - defeito de que não posso ser acusado, dada a má impressão que tenho de mim - mas sim com o facto singelo de gostar do que faço e saber que não sou o pior. Talvez não seja o melhor - não sou - mas tão pouco sou o pior. Talvez o problema não seja sequer ser o pior ou o melhor. Talvez seja simplesmente saber que podia ser muito pior. Isto é: podia ser eu. 

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O MADRIGAL VI está varado e a ser pintado por um gajo que me inspira tanta confiança como as leis de Newton e eu aposto que amanhã estou na água outra vez com um casco limpo e se Deus quiser limpo por muito tempo. Vamos a ver. Comprei um antifouling cuja marca desconheço, mas que é três vezes mais barato do que a que conheço. Basta não ser três vezes pior.

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Hoje queria ir dormir ao hotel, mas o Centr'hôtel está cheio. Se alguém imaginasse o que preciso de um quarto com ar condicionado e uma cama confortável ganharia de certeza o Nobel da literatura. Ou da paz, vá lá saber-se.

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Se tudo correr bem largo quarta-feira. Não vai, eu sei. Mas se sair quinta já fico bastante contente e considerarei que tudo correu pelo melhor.

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O dia chegado ao fim organizei uma corrida entre um rhum punch no Lagoonies e um duche, Ganhou o rum e não consigo impedir-me de pensar que não é propriamente inesperado. E que devia aprender a fazer apostas. Aposto que ganharia.

21.4.25

Diário de Bordos - Cole Bay, Sint Maarten, Antilhas Holandesas, 20-04-2025

O domingo pascal amanheceu  chuvoso, fiquei com o camarote encharcado, as bombas de fundo estão no sitio, consegui finalmente tirar a porra da Antena VHF - tempo recorde. A boa ferramenta faz o bom operário - tenho a tripulação completa e amanhã vou fazer provas de mar. Hoje jantei com o Ângelo no Yacht Club. Terça tenho de resolver o problema do camarote e saber quando chega a escotilha. Depois falta pôr a antena nova no sítio, levar a grande ao veleiro, fazer a lista de tudo o que não funciona, fazer a lista de compras, planear a viagem nos dois GPS,  ir almoçar com o Jim outra vez, escrever sobre esta fatal incapacidade da minha felicidade ser completa - uma felicidade incompleta ainda é felicidade? A felicidade pode parcelizar-se como as compras de electrodomésticos no Brasil? - imaginar-me na casa nova que ainda não vi toda preparada pela L., falta-me apenas ser feliz para que a minha felicidade seja completa. 

Já da infelicidade não falo. Falta muito para que seja muita. Com a idade aprendemos a preservar a infelicidade intacta, não a deixar set atingida por acontecimentos extemporâneos.

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Este é o meu mundo. Sou parte dele e ele de mim. De quantos outros posso dizer a mesma coisa?

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"Sou como sou e é tudo o que sou", dizia o Popeye. "Sou como sou e é tão pouco o que sou", contraponho. A felicidade começa com uma lata de espinafres e acaba com um espelho cheio de ângulos agudos.

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O M. VI está um caco, a tripulação é impecável e eu ando algures pelo meio. Mais perto do barco, suponho.

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Há alguns anos descobri que sou europeu, mediterrânico  e português, por esta ordem. Duas semanas em St.-Martin fazem-me pensar naquela velha ideia de que sou de onde estou. Apesar de estar em Sint Maarten. O bote está no lado holandês, na Blue Pearl Marina, mesmo ao lado do Lagoonies. 

Sou português e sou de onde estou: ando com Portugal às costas, como a tartaruga e a sua carapaça. 

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Não sei como é que o Schrodinger consegue ser tão citado. Se a incerteza pagasse eu seria o Onassis.

Verdadeiros amores

Disse-te várias vezes que te amo e todas elas eram verdade. Penso que da diferença pode nascer amor. Como da igualdade,  de resto. Só da indiferença não pode. Há proximidades mais distantes do que a distância e distâncias nais próximas do que meia dúzia de graus de longitude ou latitude deixariam supor. Há amores mais evidentes? Há. Mas o óbvio nunca foi garantia de qualidade. Antes pelo contrário: a qualidade esconde-se, não se mostra. Os verdadeiros amores sobrevivem nais facilmente à distância do que à proximidade.

Os verdadeiros amores sobrevivem.

19.4.25

Não é retórica. É para uma amiga

Uma pergunta: ser mentecapto (por outras palavras, ter insuficiências cognitivas) pode ser usado como circunstância atenuante para actos ignóbeis, infames, nojentos, asquerosos, desprezíveis, vis, imundos, abjectos, indecorosos, indignos, torpes, hediondos, sórdidos? E se para além de se ser mentecapto se tiver alguma educação? A educação e as fragilidades cognitivas anulam-se, servem de desculpas mútuas? Ou antes ser educado só torna mais graves os actos?

Diário de Bordos - Marigot, Saint-Martin, Antilhas Francesas, 18-04-2025

Tenho escrito pouco, estes últimos dias. E não é por falta de ideias. Perdi pelo menos cinquenta páginas (ou posts, vá lá) imperdíveis, passe a incongruência. Penso no que vivi e me fez perder tais chefs-d'oeuvre. É fácil: outras tantas obras-primas.

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Nós somos o elo mais fraco. Nenhum marinheiro se esquece disso, nunca. É uma verdade simples, imperdível. Talvez se aplique a outras profissões, não sei. Talvez se aplique a toda a humanidade. Não sei.

Só sei que nós, marinheiros, somos o elo mais fraco e não nos devemos deixar enganar pelo canto das sereias. É para isso que existem mastros e cabos para nos amarrar a eles.

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Vim jantar com os miúdos a Marigot. Enfim, miúdos não é bem o termo. W. chegou há duas semanas de uma viagem de bicicleta de Amsterdão à Cidade do Cabo. Um ano e três semanas a pedalar por África não é coisa de miúdo. E se o fosse antes não o é agora, de todo. Já T. é diferente. Faz-me pensar na outra T. mas sem o lado depressivo, angustiado e angustiante. Os dois falam que se desunham. Mudei de mesa.

T. tem um terço da minha idade, um terço do meu tamanho e um terço do meu peso (passe o efeito literário) e é nove vezes mais eficaz do que eu. Ou seria, se eu não tivesse de lhe explicar o quê e como fazer. E ainda há quem diga que o saber não ocupa lugar.

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Escrevo no bar do Centr'hotel, que agora se chama (o bar) Le Carré Vert. É o L'Impératrice de Marigot. No outro só dormi uma vez, creio. Aqui passei muitas noites. 

Dormi muito nos dois e em muitos outros como estes. Chama-se França. 

18.4.25

Diário de Bordos - Cole bay, Sint Maarten, Antilhas Holandesas, 28-04-2025

Propus ao dono que me deixasse fazer alguma manutenção enquanto espero pela escotilha, para não ficar aqui a fazer nada ou muito pouco. Como sempre, meti-me num ninho de vespas com uma ilimitada capacidade de vespas com uma igualmente ilimitada capacidade de reprodução. Tenho sorte, claro: tripulação fantástica, dono até agora bastante correcto e o barco amarrado ao lado do Lagoonies. Podia ser pior (pode: o bar vai fechar de amanhã até segunda-feira). A lista de trabalhos é grande e avanço por ela lentamente: bombas de fundo, VHF, o meu camarote mete água, verificar a dessalinizadora, reparar o duche do camarote bombordo a vante, fazer uma prova de mar - a grande vai precisar de reparações, é praticamente garantido. Resta esperar que seja só isto e não apareça mais nada.

Uma parte de mim acha que sou um idiota, mas pode ser que esteja enganada. A ver vamos, como diz o ceguinho (à mulher que é surda).

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Isto dito, é verdade que se há coisa que gosto de fazer é tratar de barcos doentes.

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Leio notícias de Portugal e não consigo deixar de confirmar: metade da nossa burguesia é europeia e a outra metade é portuguesa. Infelizmente estas duas metades não se compreendem muito bem e não alternam no Poder. Está sempre a mesma.

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15.4.25

Diário de Bordos - Cole Bay, Sint Maarten, Antilhas Holandesas, 15-04-2025

Há quem pense que nós, marinheiros, tememos tempestades, capitães malucos, donos (ou armadores) incompetentes, mastros a cair e baleias a dormir. Nada disso, A pior maldição que pode cair sobre um marinheiro chama-se «à espera de peças». É dessa praga que sou agora vítima. À espera de uma peça que demora, neste tempo de globalização e o caraças duas semanas a chegar. Se não for mais.

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Comecei isto ontem, mas a mistura de rede fraca e cansaço levaram a melhor e acabei a dormir. Continuo hoje na Sucrière, manhã fresca: choveu abundantemente durante a noite e as nuvens ainda não se dissiparam. Gosto destes rituais: começo o dia, meto-me no carro, venho para aqui - tem horários mais adequados do que o Lagoonies, que só abre às oito - envio relatórios, contas e informação diversa ao proprietário - escrevo, bebo café e como um croissant, volto para bordo, tomo o duche matinal, começo o dia de trabalho... Há rotinas odiosas - metro, boulot, dodo exprime-as muito bem - e outras há adoráveis. Fazem-nos pensar que a vida devia ser uma repetição em loop delas. Não é.

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Ontem chegou o cozinheiro. É um rapaz de Curaçao que acaba de fazer uma viagem de bicicleta entre os Países Baixos e Cape Town. Nunca pôs os pés num barco. A primeira vez que atravessei o Atlântico à vela eram quatro assim, mas saímos da Europa e tiveram mais tempo para se aclimatarem. Este vai apanhar de chofre com quinze dias de mar.

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Philispburg só não é a cidade mais feia do mundo por duas razões: a) esse lugar pertence indelevelmente a Colón, no Panamá e b) porque tem este incomparável mar das Caraíbas a espreitar a cada esquina. Literal, não metaforicamente: a Front Street (uma das três ruas que a cidade tem no sentido Lest - Oeste - uma das outras é a Back Street) é mais ou menos regularmente cortada por ruas ou passagens ou travessas ou como lhes queiram chamar pelas quais se pode entrever o mar, este azul que é uma dissonância cognitiva: como é que uma cidade tão feia tem relâmpagos de tal beleza?

Ainda por cima, hoje estavam dois navios de cruzeiro no porto, o que torna o sítio ainda mais feio.

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É happy hour e o Lagoonies está cheio a abarrotar. Franceses, ingleses, americanos, stews, cães, marinheiros, funcionários das diversas empresas que prestam serviço à náutica de recreio, mais marinheiros - facilmente reconhecíveis, gentleman sailors que esperam a largada do ARC Europe. 

E eu. Que só tenho aqueles versos na mente: I know them. / I am one of them. Bem sei que são de e para Bequia, mas podem decalcar-se para aqui.

(cont.)

13.4.25

Ruínas

Ruínas excelsas: ruínas sobre as quais edificar um passado  e viver pacificado um futuro. Ruínas pacíficas: ruínas de paz, amor, vida. Ruínas feitas de harmonia. Ruínas de casas que não habitámos. Ruínas que são a fundação dos próximos edifícios. Ruínas saciadas. Felizes, em suma.

Diário de Bordos - Maho, Sint Maarten, Antilhas Holandesas, 12-04-2025 / II

O problema em Sint Maarten (e em St.-Martin, mas menos) parece um bocado estranho: há quarenta mil razões para se gostar desta ilha e outras tantas para a detestar. O pior é que quando se começa a listar umas e outras apercebemo-nos de que são as mesmas. No fundo, St.-Martin (ou Sint Maarten) são a vida, que ora se detesta ora se ama - sendo ela a mesma, claro. O que muda somos nós. Ou o momento em nós. Ou o momento. Ou tudo isto junto e misturado.

Ele é o trânsito, o ruído, a banalidade, a classe e a falta dela, a beleza mais extrema e a fealdade idem, a qualidade e o horror, mulheres lindas e mulheres vulgares tudo ao mesmo tempo, em questão de micro-segundos salta-se de um pólo ao outro - de quê? Da vida, claro.

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A tripulante mudou de ideias, foi sair com amigas da idade dela e eu fiz o mesmo (mudar de ideias): vim comer ao Spices of India, um restaurante que o Google me diz ser muito bom. É. Não comia assim desde o saudoso Indy, em Nairobi, nairobbery para os amigos, que também era num centro comercial. Não me lembro das sobremesas do Indy - nessa altura não comia doces - mas agora como um gelado de pistachio e açafrão, depois do caril "especial da casa" de cabrito e de um dos melhores plain naan que já me passaram pelo estreito (em Lisboa há um igual, já não me lembro aonde). Agora vou beber um ponche kuba (não perguntem, é a primeira vez) e aposto que saio desta casa a adorar cada minuto que aqui na olha passo, tanto quanto há uma hora os detestava.

Escrevo isto e apercebo-me de que a simetria não é perfeita. São mais uns do que os outros.

A vida é assimétrica. 

12.4.25

Diário de Bordos - Cole Bay, Sint Maarten, Antilhas Holandesas, 12-04-2025

Passei uma parte do dia pendurado no mastro, outra no motor de bombordo, outra nos fundos de ambos os cascos. Um skipper deve ser de geometria variável.

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Cada vez tenho mais desprezo pelas «qualificações», aspas porque ironizo. Quanto mais dinheiro estes gajos gastam para ter «diplomas e títulos» menos sabem. Porém, se eu abrisse uma escola não teria nem um aluno: todos sabem tudo.

Pata que os pôs, a estes skippers que nem para navegar na banheira servem. 

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O Mia Couto recebeu um prémio qualquer. A única pessoa com quem podia discutir o que penso do senhor morreu há pouco tempo. Nunca o conheci pessoalmente e a pena que tenho é grande. Descansa em paz, C. Não mais falaremos dos nossos ódios de estimação, que se sobrepunham como aquelas folhas que os alfaiates pôem nos tecidos para fazer fatos à medida.

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Ontem fui jantar a lolo no lado francês. Comi um colombo de frango. É quase impossível fazer um mau colombo, tanto quanto o é fazer um excepcionalmente bom. Posso anunciar com orgulho que o meu o é. Contudo, a sinceridade obriga-me a reconher que essa qualidade vem de duas fontes: 1 - o pó de colombo que a minha cunhada fazia; 2 - o facto de eu fazer aquilo seguindo rigorosamente o cânone. Esse pó acabou, de modo provavelmente o meu colombo voltará a entrar na média. Logo volto (a outro lolo), muito provávelmente para um guisado de rabo de boi, que tem uma latitude de qualidades muito mais vasta e que nunca fiz. 

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Dias cheios e tripulação fantástica. Amanhã vai ser dia de folga. Vou passear pela ilha com os miúdos, que merecem. E eu também.

11.4.25

Diário de Bordos - Cole Bay, Sint Maarten, Antilhas Holandesas, 11-04-2025

(Continuação de ontem, passem a redundância. Todos os dias são a continuação do anterior, não são? Não, nem todos, mas isso fica para depois.)

Deixei os miúdos na conversa e fui deitar-me. Gosto de os ouvir falar: são sensatos, «adultos» mas os temas interessam-me pouco. Que interessassem: o sono leva sempre a melhor. (Ontem dei-lhes uma seca com as minhas histórias...)

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«Às quintas e sextas há» música no Lagoonies, «e às vezes ao sábado», diz-me O. Dias a evitar, portanto.

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Domingo chega-me o chef. Estou aqui há três dias e parece-me que nunca de cá saí.

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Vim à Sucrière, «a melhor pastelaria francesa do lado holandês». As aspas têm duas funções: indicar que é uma citação e exprimir uma dúvida. Isto é: de que é a melhor não duvido. Já que seja muito boa... Tem contudo a seu favor a hora de abertura, que se adapta bem aos meus horários; e a vista para a laguna. Apresenta ainda uma dinghy dock (pontão para botes?), mas como estou de carro essa vantagem por agora escapa-me.

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E agora vou para bordo, começar o dia. Sim, dias perfeitos começam na Sucrière.

(Cont.)

10.4.25

Diário de Bordos - Cole Bay, Sint Maarten, Antilhas Holandesas, 10-04-2025

O dia foi de trabalho árduo e ainda não acabou: agora falta enviar ao proprietário o resultado do inventário exaustivo (e exaustante, mas isso são contas de outro rosário). Ainda faltam a mesa de navegação e o material de segurança, que ficam para amanhã, também é dia.

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Como de costume, a felicidade tem muitos componentes. É como aqueles cabos eléctricos compostos por um feixe de cabos mais finos. Um desses cabinhos é a tripulação, uma maravilha, dois jovens nos vintes - um isaelita de vinte e quatro e uma americana de pouco mais. A americana estudou jornalismo mas está descontente com o caminho que a profissão leva e anda à procura de outra vida. A miúda é adorável, bonita e inteligente, três qualidades (das quais duas não são culpa dela, verdade seja dita, mas não estragam nada). O israelita ainda não percebi o que faz. Sei que aos vinte e quatro anos já tem cinco anos de mar na marinha de guerra de Israel e que tem exactamente as mesmas qualidades do que a rapariga, se bem uma delas me toque menos.

(É mentira. A beleza não tem sexo, estúpido.)

(Cont. - Falai no mau...)

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Encontrei finalmente uma coisa no Lagoonies que não aconselho: os nem  de porco, (Agora sim, continua.)

Diário de Bordos - Cole Bay, Sint Maarten, Antilhas Holandeses, 09-04-2025

A civilização ocidental afasta-se da biologia como um iceberg da calote polar? Sim e não. Sim porque se afasta, não porque o iceberg não vai desfazer-se. E também porque começou há muito tempo. Os icebergs desfazem-se mais depressa. Vem do cristianismo,  a mais anti-biologia das religiões monoteístas. Não comento sequer os milagres, como transformar a água em vinho - uma impossibilidade tal que nem os alquimistas a tentaram - andar sobre a água ou acreditar que uma pombinha na cabeça nos ensina a falar todas as línguas do universo. Nada disso. Refiro-me a coisas mais picuinhas, como acreditar que somos todos iguais, que devemos dar a outra face se alguém nos bate numa e por aí fora. Claro que o cristianismo teve vantagens e muitas. A menor das quais não foi ter feito de Deus um ente portátil. Podemos dar a volta ao mundo sem deixar de O encontrar. Mas a verdade é que os seus ensinamentos estão na base desta deriva da biologia que hoje todos vivemos. Acontece que a biologia vencerá. Por muito espaço que Deus ocupe terá sempre de se apoiar em células e troca de fluidos.

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Caraíbas: hoje bebi os primeiros ti'punch da temporada e tive a bordo o mecânico da Yanmar. Amanhã começa o trabalho a sério e continua a caça ao tripulante: já se me meteu na cabeça que vou ter um cozinheiro a bordo. Vamos a ver o que se segue. Até ver não me posso queixar, muito antes pelo contrário.

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Em St.-Martin as línguas oficiais são o francês e o holandês, as moedas oficiais o euro e o NAF - Netherlands Antillian Guilder mas toda a gente fala ou inglês ou criolo e usa o dólar americano como moeda corrente. Gosto desta a-territorialidade, deste sentimento de estar aqui como se estivesse numa nuvem um num tapete voador. Hoje fui ver a P. e o J.-B. ao Sous Marin em Marigot, beber os tais ti'punch ao Arawak, mesmo ao lado e fui jantar com a tripulante a um indiano mediano aqui perto (se se for de dinghy. De carro é um pouco mais longe e hoje aluguei um, que foi de resto o que me permitiu ir a Marigot. O dinghy já está nos turcos e não tenho muita vontade de o tirar de lá.)

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Estou outra vez a fazer o que gosto: preparar um barco, mais ou menos a mesma coisa do que fazer a corte a uma mulher, esperando que ele me retribua com uma viagem sem problemas. Ou ela com uma vida sem eles, duas coisas que não andam assim tão longe uma da outra como se poderia pensar,

9.4.25

Diário de Bordos - Cole Bay, Sint Maarten, 08-04-2025

Estou no Lagoonies. Já bebi um rhum punch (dois, na verdade.  Um à tarde outro agora, enquanto espero o jantar, que vai ser um hambúrguer). O barco está a cinco minutos daqui, se for a pé. De dinghy está a um minuto. É um Lagoon 40 e tem um nome adorável, tanto que lho escarrapacho aqui: MADRIGAL VI. A música está demasiado alta, eu demasiado cansado e - porque não? - demasiado encantado com esta traversia. Vamos ser cinco, um dos quais chef (já não há cozinheiros. Pergunto-me o que fazem as sociedades de protecção dos animais a respeito de tão nefasta extinção de tão  importante e tão necessária espécie). O bote parece estar em condições. Amanhã vão mudar o trocador de calor de um dos motores. Não perguntem, não tenho pormenores. Acho esquisito mudarem só um, mas enfim, amanhã saberei mais. A tripulação - ou pelo menos a parte dela que conheci hoje - é porreira. Uma miúda americana gira e jovem (isto cada vez mais me parece um pleonasmo, não sei porquê. Deve ser da idade) e um gajo daqui, profissional e sério. Faltam dois. Um chega amanhã,  o outro para a semana. Com um pouco de sorte ainda terei um ou dois dias de férias.


8.4.25

Envelhecer bem

Vou dizer-lhe a verdade, meu caro. Estou a envelhecer. Todos estamos, dir-me-á. Sim, mas não à mesma velocidade. Isto é, não estamos todos no mesmo ponto do envelhecimento. Sabe as montanhas russas, aquelas subidas começam devagarinho, com um ângulo pequeno e depois tornam-se cada vez mais íngremes? Sim, a velhice para mim é uma subida, não uma descida. Melhoramos com a idade, passe-me por favor o chavão. Claro que se atentarmos aos pormenores poderíamos pensar que não, que a velhice é uma decadência, uma degenerescência. Ele é a força física cada vez menor, a farmácia cada vez maior. Pormenores, meu caro. Pormenores. Prestamos cada vez menos atenção aos detalhes e fixamo-nos na imagem geral. A limpidez da imagem aumenta, claro. Já viu? Picuinhices para que vos quero? Vejo menos, oiço menos: quem é que quer ver tudo? Só um tarado. Ou ouvir, é a mesma coisa. Só os loucos e os jovens acreditam na importância de um pentelho, passe-me o pleonasmo e a expressão, por favor. Nós, velhos, não nos preocupamos com pelinhos, venham eles de onde vierem. Nem com o sítio de onde vêm, de resto. A minha farmácia está cada vez maior, é certo, já estive em metade dos hospitais da cidade. Não somos feitos para envelhecer: tudo o que vem depois dos cinquenta anos é um bónus, dizem os biólogos. No meu caso, vivi até aos cinquenta e cinco, sessenta anos. Depois disso o carrinho começou a subir e eu nele, agarrado para não cair, a olhar para cima, para o céu. Envelhecer é isso: ver o céu cada vez mais perto e os pentelhos cada vez mais longe. Envelhecer bem é perceber a imensa sorte que isso representa, meu caro.

7.4.25

Diário de Bordos - Comboio Caminha - Lisboa, Portugal, 07-04-2025

O comboio saiu da Campanhã exactamente a horas, à tabela, como dantes se dizia. Vamos ver quanto atrasa no caminho? Nem por isso. Que se lixe o potencial atraso - que até Coimbra é de zero minutos, acrescento. Não preciso de correr à chegada a Lisboa: tenho tempo, demasiado tempo. O avião é às cinco da manhã. O plano é refugiar-me num bar até às duas, hora a que aquilo fecha e só depois ir para a Portela, ver se me lembro de todos os aeroportos aonde já dormi - acrescentando as estações de comboios, já agora. Foram muitas e se tudo correr bem esta não será a última (se tudo correr muito bem sim, mas é pouco provável).

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Posso pelo menos esperar um excelente sono nos aviões, se não tiver que me chatear com o serviço de apoio ao cliente da KLM. Uma hora de espera, com música que faria uma cantora chamada Ágata passar pela Angélique Ionatos se se pudesse chamar música àquilo. Enfim, entre telefone e blogue o tempo passa depressa - cada palavra devendo ser escrita pelo menos três vezes, graças ao maravilhoso rodado oval destes comboios. 

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Daqui lanço mais uma vez um apelo à CP: façam carruagens sem telefonemas, já que os pais destes senhores não os ensinaram a não chatear os outros com os seus assuntos pessoais, profissionais, afectivos ou de simples entertenimento. Conseguem interromper uma viagem agradável com insuportáveis momentos de calvário.

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Parece-me importante referir que chegámos a Lisboa Oriente «no horário previsto». É pouco provável que até Sta. Apolónia haja um atraso significativo. Deve tomar-se nota destas ocorrências, que são raras.

5.4.25

Inferno, chamas

Sem ela a vida é um inferno sem chamas. Com ela, as chamas aparecem e desaparece o inferno.

4.4.25

Diário de Bordos - Caminha, Alto Minho, Portugal, 04-04-2025

O dia começou com uma seca de duas horas a ouvir gente falar da «economia azul», discurso que conheço vai para mais de vinte anos. Admiro a capacidade dos políticos portugueses falarem, falarem, falarem (o Asterix dizia «falazarem») e ninguém os confrontar com o que (não) fazem, (não) fazem, (não) fazem. Nem fazem nem deixam fazer, dupla incapacidade, duplo espanto, duplo desgosto, duplo esgoto.

Continuou bem: um grande almoço no Maria Perre (ou coisa que o valha) em Viana do Castelo e uma tarde na Centésima Página, em Braga, uma livraria que é como todas deviam ser e algumas são: ponto de confluência de muitas artes, muitos saberes.

Ou seja: um dia a fingir que sou rico, depois destes meses todos a fingir que sou pobre.

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Está uma frente a passar, não pára de chover, refugio-me na livraria.

- Refugias-te de quê?
- Do tempo e dos ruídos do tempo e do mundo.
- A livraria é um mundo.
- A livraria é um oásis, não é o mundo.

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Hoje Caminha caíu-me em cima. Caíu a ficha, como eles dizem. Lembrei-me da canção do Cohen:
«I've seen the future.
It's murder.»

Tenho sorte: há um oásis em Caminha e não é uma livraria.

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- Tenho problemas gravíssimos. Inexplicáveis. Não diga a ninguém, por favor. Por exemplo: não vejo nada. Já nem um par de mamas consigo ver sem o apalpar. As mulheres queixam-se, reclamam, algumas até chamam a polícia. Só me resta beber. É daí que vem o «inúmeros»: são muitos copos, todos os dias, todas as noites. Porém, verdade seja dita: beber não é um problema. Não ver é. Não ouvir também. Não oiço nada. Nunca ouvi, para dizer a verdade, mas antes escolhia o que não ouvia. Hoje não. Tudo me escapa. Não vejo, não oiço e pouco falo. Toco. Mamas na rua, livros que não consigo ler na livraria, discos que só aos berros me dizem porque os oiço. Não diga a ninguém por favor: as pessoas não gostam de reclusos, de eremitas internos. Não sabe o que é um eremita interno? É alguém que se encerrou um dia no seu próprio corpo ou que o seu próprio corpo encerrou um dia. A literatura está cheia de exemplos, a música também. E o cinema. O teatro. Só a escultura escapa a esta maldição: ninguém acredita que dentro da estátua de mármore ou de bronze há um corpo vivo. Um corpo, vivo ou morto. Por isso me refugio no álcool. Enfim, refugiar não é a palavra certa. V. compreende, não é? Antes fujo, a cavalo no vinho. A cavalo na música. A cavalo na noite, esta noite, deserta como um inferno sem chamas. Lembra-se do Celan:

«Senhor, estamos perto,
perto e ao alcance.

Já alcançados, Senhor,
agarrados um ao outro, como se
o corpo de cada um de nós
fosse o teu corpo, Senhor.

Reza, Senhor,
reza-nos, 
estamos perto.

Afastámo-nos com o destino do vento,
afastámo-nos para nos inclinar
nas grutas e nas crateras.

Fomos beber, senhor.

Era sangue, era
o que derramaste, Senhor.

Brilhava.

Lançava a tua imagem para os nossos olhos, Senhor.
Olhos e boca estão abertos, Senhor.
Bebemos, Senhor.
O sangue e a imagem que estava no sangue, Senhor.

Reza, Senhor.
Estamos perto.»

Não diga a ninguém. Vou confessar-lhe qualquer coisa que nem a Deus disse: só gosto dos poetas na última fase das suas vidas. Enfim, há excepções: Herberto Helder, por exemplo. São poucas. Os poetas aprendem a escrever e nós a lê-los. É uma aprendizagem mútua, por assim dizer. Pense em Tamen, em Júdice. A vida é um imenso alambique e as últimas gotas destiladas são as melhores. Já o Outro o dizia: «Os últimos são os primeiros.» Há que aprender a viver devagar, morrer devagar, olhar devagar, tocar, ouvir. Chorar. Sobretudo chorar devagar. Com vagar. Ler. Escrever. Amar. Morrer. Devagar.

3.4.25

A monte

Ando a monte. Fujo da vida como se não houvesse morte.

Portanto

Se ela fosse a minha noite dormiria todas as noites com ela, nela. Mas não é. Nem minha, nem noite. É o dia resplandecente, o sol que o ilumina, esse dia tão luminoso quanto eu sou a escuridão. 

(Dia sem noite, portanto.)

O campo e os comboios

Viver no campo tem as suas vantagens, mas eu aconselho quem não tem nem quer ter carro a pensar duas vezes. O transporte ferroviário no nosso país é ligeiramente melhor do que o do Benin e talvez do que o da Gâmbia, mas está longe de ser satisfatório para quem acredita estar na Europa. 

Nunca mais me queixarei da "pontualidade" da CP, juro (aspas porque é irónico). Estar num comboio já é um bambúrrio.

Isto dito: sempre é melhor do que Mértola, que nem comboios tem.

Peregrinações

Não me importaria nada de fazer o "caminho de Santiago" (aspas porque cito) mas de avião. Ou de comboio, vá. A pé, de bicicleta, a cavalo num burro ou só a cavalo, de trotineta,  patins, de carro ou de mota dispenso, obrigado.

Apetece-me dizer o que o meu Pai dizia à minha Mãe quando a ia deixar à igreja para a missa semanal: "Reza por mim, mulher, que eu estou velho". Depois ia para o Refeba, ali ao lado, rezar a outros deuses e juntar-se a outros peregrinos.

2.4.25

À distância

Sempre vivi à distância de tudo e de todos. Até de mim.

Isto dito, amo-te

Não há expressão que tão bem demonstre a insuficiência da linguagem como "Isto dito".

Isto dito nada está dito, tudo está por dizer, falta dizer qualquer coisa, é preciso esclarecer o que antes ficou obscuro.

Isto dito: a linguagem é uma permanente morte na praia. Nada nada nada e morre à chegada. Não tem salvação. 

Isto dito: o que acabei de dizer não é mentira, é só insuficiente. 

Isto dito: há palavras a que não se pode acrescentar nada, que não aceitam clarificações nem complementos.

Por exemplo: amo-te.

Dormir, venenos

Toda a gente quer dormir mas quando se lhe propõe dormir para sempre, aí já ninguém quer. Ou muito poucos, vá lá. Ora se dormir fosse bom, dormir para sempre seria melhor, ou não?

Não sei. Talvez não. Talvez dormir seja bom exactamente por não ser para sempre. É como os venenos, que dependem da dose. Se esta for pequena são um medicamento e só se tornam venenosos se a dose aumentar. 

É como tudo, na verdade: não há nada que não  beneficie de comedimento, de matizes. Até as vitórias precisam de derrotas intercaladas para não se julgarem eternas.

1.4.25

Dispersas diversas

Dispenso o uso de bloco-notas, gravador ou o que quer que seja para anotar ideias.
É uma das vantagens de ter apenas uma ideia por dia.
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Dizem que sou gozão. Nada mais longe da verdade. Sou sarcástico, o que é diferente.
Ao contrário da troça, o sarcasmo é um elogio à inteligência de quem ouve.
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Em Portugal envia-se um e-mail a alguém e a resposta demora dias ou semanas a chegar. Faz-se a mesma coisa para lá dos Pirinéus e a resposta é imediata, chega no mesmo dia ou no seguinte. A explicação fornecida habitualmente pelos destinatários portugueses é a carga de trabalho. Estamos todos assoberbados de trabalho.

Já "lá fora" ninguém faz nada. Deve ser por isso que nós somos ricos e eles uns tesos.