10.4.25

Diário de Bordos - Cole Bay, Sint Maarten, Antilhas Holandeses, 09-04-2025

A civilização ocidental afasta-se da biologia como um iceberg da calote polar? Sim e não. Sim porque se afasta, não porque o iceberg não vai desfazer-se. E também porque começou há muito tempo. Os icebergs desfazem-se mais depressa. Vem do cristianismo,  a mais anti-biologia das religiões monoteístas. Não comento sequer os milagres, como transformar a água em vinho - uma impossibilidade tal que nem os alquimistas a tentaram - andar sobre a água ou acreditar que uma pombinha na cabeça nos ensina a falar todas as línguas do universo. Nada disso. Refiro-me a coisas mais picuinhas, como acreditar que somos todos iguais, que devemos dar a outra face se alguém nos bate numa e por aí fora. Claro que o cristianismo teve vantagens e muitas. A menor das quais não foi ter feito de Deus um ente portátil. Podemos dar a volta ao mundo sem deixar de O encontrar. Mas a verdade é que os seus ensinamentos estão na base desta deriva da biologia que hoje todos vivemos. Acontece que a biologia vencerá. Por muito espaço que Deus ocupe terá sempre de se apoiar em células e troca de fluidos.

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Caraíbas: hoje bebi os primeiros ti'punch da temporada e tive a bordo o mecânico da Yanmar. Amanhã começa o trabalho a sério e continua a caça ao tripulante: já se me meteu na cabeça que vou ter um cozinheiro a bordo. Vamos a ver o que se segue. Até ver não me posso queixar, muito antes pelo contrário.

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Em St.-Martin as línguas oficiais são o francês e o holandês, as moedas oficiais o euro e o NAF - Netherlands Antillian Guilder mas toda a gente fala ou inglês ou criolo e usa o dólar americano como moeda corrente. Gosto desta a-territorialidade, deste sentimento de estar aqui como se estivesse numa nuvem um num tapete voador. Hoje fui ver a P. e o J.-B. ao Sous Marin em Marigot, beber os tais ti'punch ao Arawak, mesmo ao lado e fui jantar com a tripulante a um indiano mediano aqui perto (se se for de dinghy. De carro é um pouco mais longe e hoje aluguei um, que foi de resto o que me permitiu ir a Marigot. O dinghy já está nos turcos e não tenho muita vontade de o tirar de lá.)

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Estou outra vez a fazer o que gosto: preparar um barco, mais ou menos a mesma coisa do que fazer a corte a uma mulher, esperando que ele me retribua com uma viagem sem problemas. Ou ela com uma vida sem eles, duas coisas que não andam assim tão longe uma da outra como se poderia pensar,

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