Nunca gostei muito do verbo esmiuçar e agora que está gasto, puído e cheira a ranço, ainda gosto menos. O que é uma sorte, porque não era esse o verbo que pensava usar. Esse é destrançar, como em destrinçar mas aplicado a um cabo de três pernas. Estão todas entrançadas umas nas outras, o que convém a um bom cabo e destrinçar isto tudo requer um certo esforço.
Enquanto trabalhava no barco tinha um acontecimento importante na minha vida pessoal a envenar-me os dias e as noites. Desse não falo, que isto é um diário, não é um confessionário.
Ou seja: neste momento temos os problemas do Lagoon 40 e os da minha vida pessoal. Porém, qualquer cabo que se preze tem três pernas. A terceira sendo um trabalho que para mim representava tudo o que quero para o fim da minha vida de mar, que a meu ver está ali à vista do próximo farol. Acontece que as tratações para esse graal se arrastavam, eu estava cada vez mais desconfortável com elas e no outro dia mandei os senhores passear. Estava farto e quando me farto perco a pouca paciência que me resta. Isso aconteceu ontem. Anteontem tinha feito uma breve pesquisa para substituir o trabalho (numa lancha catamaran de sessenta e sete pés, a quem possa interessar).
Hoje tinha três propostas de trabalho, das quais uma me interessava bastante - era no Panamá, fazer charter nas San Blas - e outra também - é uma lancha em Maiorca. O uso do presente do indicativo diz tudo, não diz? Diz. No Verão volto para Maiorca, trabalhar numa lancha não sei de que comprimento mas pouco me importa. E o trabalho no Panamá ficou de porta entreaberta para Outubro, quando acabar o charter na Sicília. Destrinçar isto tudo, meus queridos leitores, é muito mais complicado do que descrever as complexidades da mecânica das vagas ou destrançar ternamente uma senhora.
É como destrinçar a vida, trança a trança, transa a transa.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.