8.9.25

Diário de Bordos - Comboio Lisboa-Porto, 08-09-2025

Passo dois terços da minha vida no mar, um terço nos aviões e o resto nos comboios. Uma vida movimentada, por assim dizer. Isto sem esquecer as bicicletas, os táxis e os carros alugados. Durmo em hotéis, pensões, Airbnb, espeluncas, barcos e hoje vou até - imagine-se - dormir no meu quarto, em minha casa. Bebo vinho, cerveja e rum, prática essa que tem proporcionado ao meu fígado uma saudável ginástica. O fígado é um músculo, toda a gente sabe e precisa de exercício. 

Menos os médicos, claro. Mas desses não me queixo. Ainda hoje conheci a minha nova médica de família, uma jovem simpática, bonita (não estraga nada) e espero competente. A ver vamos.

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Agora escrevo no comboio. Saímos da estação de Coimbra-B, que para mim será sempre e para sempre Coimbra - Céu, Coimbra - Paraíso, Coimbra- Deus existe e é uma mulher (toda a gente sabe, mesmo as mulheres). Bebo vinho tinto e espero que o tempo passe ao mesmo ritmo do que a paisagem. Não tenho a certeza. Passou depressa demais. Estes  últimos vinte anos passaram depressa demais, aliás, coisa que o rabo da senhora sentada à minha frente ou a senhora toda que até há pouco ocupava a outra mesa demonstram abundantemente. 

A dona do supra mencionado rabo está a engatar e a ser engatada por um gajo sem ponta de interesse, na minha modesta mas esclarecida opinião. Alguém devia tecer loas aos rabos das senhoras sentadas à nossa frente no bar de um comboio, mesmo que tenham escolhido um engate errado. E cantar laudas aos rabos de algumas senhoras. Procurando bem deve haver algumas na música sacra desde o século XII, altura em que se começou a perceber o carácter sagrado do corpo feminino.

(Ainda por cima é portuguesa. Não sei de onde vem o engatatão mas deve vir de um daqueles infernos aonde falam inglês.)

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Os aviões não têm nem bar nem paisagem e  só ocasionalmente têm rabos femininos tão bonitos como o desta senhora de quem agora vejo a cara e o sorriso (levantei-me para isso). Correpondem. Esta mulher é um hino ao equilíbrio. Não é espampanantemente bonita. É só bonita, como a médica de hoje.

Como a vida.

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É quase agoniante esta apetência pela vida, não é?

É. Mas uma ocasional náusea nunca me impediu de viver. Nada nunca me impediu de viver, por mais que eu tenha tentado.

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