O vermute do restaurante Aduana, em Valencia, não é tão bom como o Can Rich de Ibiza, tant s'en faut. Não é uma surpresa, claro. São muito poucos os vermutes que se lhe aproximam, sequer. Apesar disso, deposito uma larga quantidade de confiança no Aduana, que me foi aconselhado por pessoas do burgo e logo à primeira vista e primeiros contactos me faz esperar uma boa refeição - neste caso jantar.
Os boquerones fritos reforçam essa expectativa. A verdade é que ninguém sabe fritar peixe como os espanhóis e quando a matéria-prima é boa essa qualidade manifesta-se com esplendor. A seguir vêm uns secretos. O objectivo sendo vingar-me dos que comi ao almoço no chiringuito da marina, que estavam um horror com M gigantesco.
A vingança é um êxito. Estes secretos são uma delícia com M igualmente gigantesco, mas diferente do primeiro. Oposto. M de maravilha, M de milagre, M de "que sorte tens, Luisinho".
Claro que sorte é um termo que engana muito. A escassez de paciência que me aflige de há uns anos a esta parte vê-se confrontada com uma empresa que dá à palavra desorganização outra envergadura. Astronómica, por assim dizer. Galáctica. Felizmente, essa expansão da falta de paciência foi acompanhada, exactamente na mesma razão, por um crescimento da tolerância. De maneira lá me tenho aguentado mais ou menos em silêncio. Excepto quando estou com D., um dos outros skippers, um tipo experiente e simpático. Aí, abrimos os dois as válvulas e deixamos sair os fumos.
Ou seja, o jantar está a ser uma sucessão de sucessos (desculpa, M., aqui não posso usar os sinónimos que tu preconizas), espero com anseio a largada e antevejo-me no Rana Dorada, o meu waterhole favorito do casco viejo da cidade de Panamá. Se ainda existir, naturalmente. Tenho de ir ver ao google. Existe. Hallelujah!
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O jantar fecha com um café, um Disaronno e comigo a pensar que hoje vou de novo dormir como se Deus existisse e me ressuscitasse porque isto não é sono, é uma espécie de morte, um ersatz de morte e Deus estaria decerto ali para me trazer de volta à vida, se existisse.
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Recuperei o uso pleno dos dois olhos (será que Deus existe, afinal? Não. Tendo mais a acreditar na medicina e na química farmacêutica). Agora já só falta recuperar a concentração, ver se me ponho de novo a ler livros e não esta porcaria que me aparece no telefone portátil.
Porcaria essa que é, de passagem seja dito, o único contacto que tenho com o mundo exterior.
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Boa notícia: vai ser preciso parar em La Linea.
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Ainda bem que não joguei no totómilhões. Não teria saído nada, aposto. Mas lá que teria ajudado a pagar o jantar teria.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.