A tourada acabou às seis da manhã e são oito e meia. Já posso escrever qualquer coisa, espero. Às quatro e um quarto o J. vem chamar-me: "o spi caiu". Estava a dormir no salão porque... enfim, porque e em menos de um minuto estava no convés. É preciso começar por dizer que o spi é um parasailor, daqueles que têm umas aletas que se abrem quando vem uma rajada. O tecido é duas vezes mais pesado do que o dos spis normais. Acresce que tem uma campânula para o abafar antes de ser arreado - os ingleses chamam sock a este método, que tem méritos em caso de tripulações reduzidas ou inexperientes, casos da minha. O spi é enorme. Não deve andar longe dos cem metros quadrados.
Era isto que estava agora na água, parcialmente debaixo dos cascos. Precisámos de quase duas horas, o marinheiro e eu, para o pôr a bordo. Uma hora quarenta e cinco minutos, para ser exacto, de trabalho insano. A próxima vez que me lembrar da minha falta de força física lembrar-me-ei deste episódio e terei vergonha, como agora tenho, de todas as vezes que pedi ajuda "por não ter força". Ainda tenho.
O que já não tenho são os reflexos que dantes tinha. Aquilo podia ter sido feito mais depressa se eu tivesse feito logo o que deve ser feito: largado os cabos todos menos um e deixar o pano flutuar. Sinal de velhice ou de falta de treino? Prefiro esta àquela: um gajo que forneceu aquele esforço todo pode ser velho mas não deve pensar que isso o incapacita.
Ou seja: posso deixar de me ciliciar os neurónios? Obrigado.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.