24.2.04

Mentirita

Mentirita era o nome que se dava, na Venezuela, ao Cuba Libre. Um nome adequado, reconheçamos.

A melhor Mentirita de La Guaira e arredores era preparada por um italiano, fascista até à medula ("No tempo do Mussolini os comboios andavam a horas!" - nunca percebi este fascínio dos fachos italianos com a pontualidade dos comboios no tempo do Benito). O Cuba Libre era francamente bom - mas Paolo não dava a receita a ninguém, por muito que todos nós lha pedíssemos.

Um dia o meu pai saíu de casa depois de jantar, mais decidido que o costume: "Hoje vou conseguir a receita do Paolo", garantiu-me à porta. Conseguiu: voltou às quatro da manhã, completamente bêbedo. Só me disse "Tenho-a!" antes de se deitar.

No dia seguinte explicou-me que passara a noite a beber e a oferecer bebidas ao Paolo - que finalmente cedeu e lhe deu a receita com uma condição: na Venezuela, não a dávamos a ninguém, a ninguém! Fora da Venezuela estávamos autorizados a dar a receita a quem quiséssemos. Aqui vai:

Uma porção de Rum Anejo - aconselho o Cacique ou o Habana Club;
Um quarto (ou um terço, no máximo) de porção de Gin;
Duas ou três gotas de Bitter Angostura;
Uma rodela de limão,
Um copo alto cheio de gelo
Coca-Cola - recém aberta. Revoltem-se se vos fizerem um Cuba Libre com Coca Cola de litro aberta há duas horas (na melhor das hipóteses - por vezes são de ontem!).

A partir desse dia, todos os amigos e colegas do meu pai começaram a juntar-se em nossa casa para as Mentiritas do final do dia.

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