Pedro Mexia tem hoje, como de costume, um magnífico artigo no DN - este sobre a descolonização. Se bem que esteja de acordo sobre o fundamental da crónica, gostaria de fazer duas ou três observações:
Do lado de lá, os africanos tiveram as mesmas experiências, mas com um acento quase exclusivo no lado doloroso que todos estes períodos históricos trouxeram - Colocar o acento quase exclusivamente nos aspectos negativos da descolonização faz parte desse argumento falacioso, ou melhor, fraudulento, que consiste em escamotear os factos positivos, e irrefutáveis, da colonização: coisas com a esperança de vida, a taxa de mortalidade infantil, a educação, etc. O PIB per capita no Gana em 1960 era mais elevado que o da Coreia do Sul!
fomos aguentando uma guerra que nunca seria ganha militarmente - isso é discutível: a guerra estava ganha em Angola, empatada em Moçambique e perdida na Guiné. Nada mau, para um pequeno e pobre país da periferia da Europa, a lutar em três frentes a milhares de quilómetros de casa; o que era de todo impossível seria ganhar politicamente as guerras;
Podia ser doutro modo? Pelo que tenho lido, acredito que sim. Bastava que - não podia, e não "bastava que". Para que a descolonização (a qual, de resto, como muito bem diz, ainda não acabou) seria preciso toda a série de condições que enumera (e já são muitas e nada fáceis), e mais uma, sine qua non: um exército em estado de combater. Ora o nosso, por motivos óbvios, não estava;
O tema da descolonização interessa-me, evidentemente - mas não tanto quanto seria de esperar. Estou muito mais interessado com o futuro. "Que fazer?" parece-me uma questão mais importante, mais pertinente, mais adequada do que "Que deveríamos (ou poderíamos) ter feito?" A resposta é: "não sei". Penso, contudo, que o primeiro passo deve ser olhar para a situação em Africa da perspectiva correcta - a saber, que o problema é político e não económico. Por isso sou contra as soluções de ordem económica, do tipo "um dólar por dia salva 250 crianças de uma morte certa" (talvez seja verdade, mas chega a adolescência e vão para soldados?; ou assim que deixam de ser crianças e ter "direito" a protecção morrem de fome?). Claro que é difícil explicar a um zimbabweano hoje que não lhe dou dinheiro porque acho que não resolve o problema, mas isso é outra história. E por isso duvido muito das ONGs, com a sua tendência para colocar as culpas todas na "colonização" - ou nas colonizações, se preferir: apesar de não ver grande diferença entre elas, ou pelo menos entre os seus resultados.
Do lado de lá, os africanos tiveram as mesmas experiências, mas com um acento quase exclusivo no lado doloroso que todos estes períodos históricos trouxeram - Colocar o acento quase exclusivamente nos aspectos negativos da descolonização faz parte desse argumento falacioso, ou melhor, fraudulento, que consiste em escamotear os factos positivos, e irrefutáveis, da colonização: coisas com a esperança de vida, a taxa de mortalidade infantil, a educação, etc. O PIB per capita no Gana em 1960 era mais elevado que o da Coreia do Sul!
fomos aguentando uma guerra que nunca seria ganha militarmente - isso é discutível: a guerra estava ganha em Angola, empatada em Moçambique e perdida na Guiné. Nada mau, para um pequeno e pobre país da periferia da Europa, a lutar em três frentes a milhares de quilómetros de casa; o que era de todo impossível seria ganhar politicamente as guerras;
Podia ser doutro modo? Pelo que tenho lido, acredito que sim. Bastava que - não podia, e não "bastava que". Para que a descolonização (a qual, de resto, como muito bem diz, ainda não acabou) seria preciso toda a série de condições que enumera (e já são muitas e nada fáceis), e mais uma, sine qua non: um exército em estado de combater. Ora o nosso, por motivos óbvios, não estava;
O tema da descolonização interessa-me, evidentemente - mas não tanto quanto seria de esperar. Estou muito mais interessado com o futuro. "Que fazer?" parece-me uma questão mais importante, mais pertinente, mais adequada do que "Que deveríamos (ou poderíamos) ter feito?" A resposta é: "não sei". Penso, contudo, que o primeiro passo deve ser olhar para a situação em Africa da perspectiva correcta - a saber, que o problema é político e não económico. Por isso sou contra as soluções de ordem económica, do tipo "um dólar por dia salva 250 crianças de uma morte certa" (talvez seja verdade, mas chega a adolescência e vão para soldados?; ou assim que deixam de ser crianças e ter "direito" a protecção morrem de fome?). Claro que é difícil explicar a um zimbabweano hoje que não lhe dou dinheiro porque acho que não resolve o problema, mas isso é outra história. E por isso duvido muito das ONGs, com a sua tendência para colocar as culpas todas na "colonização" - ou nas colonizações, se preferir: apesar de não ver grande diferença entre elas, ou pelo menos entre os seus resultados.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.