23.2.04

Um dia (4)

Hannah era professora de história judaica na Universidade, já o dissémos; tinha um marido jornalista (agora director de um diário) e um amante que era seu aluno. Terá filhos? O autor não sabe ainda. Por um lado teme o esforço suplementar de ter que descrever as crianças, educá-las, quase; por outro, pergunta-se se a vida de Bruno e Hannah faz sentido sem crianças. Eles também, de resto. Já não são muito jovens, e se querem tê-los é agora. Mas a perspectiva da maternidade assusta Hannah: tem medo de não estar "à altura". Toda a sua vida tivera medo de não estar à altura - que "altura" não sabia ela, e não saberemos nunca.

Objectivamente, Hannah queria um filho, ou dois de preferência: a "escolha do rei", gostava ela de dizer nos jantares dos seus colegas de faculdade, que já não ligavam muito ao que tomavam por provocações. A "escolha do rei" é ter primeiro um rapaz e depois uma rapariga. Hannah, que era grande e bela, imaginava-se facilmente a passear no jardim com o carrinho de bébé. Bruno via-a menos facilmente a dar de mamar à criança em vez de ir a uma aula, ou assistir aum congresso.

Ela partilhava as suas dúvidas com Bruno:
-Achas que vais ser um bom pai?

Sem comentários:

Enviar um comentário

Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.