15.3.04

Nuno Júdice (Fragmentos)

Fragmentos porque não posso transcrever tudo...

"Recolhido a bordo, eu era a imagem do náufrago, sem possuir, porém, as suas qualidades profundas. Momentaneamente assimilado a uma situação, ou antes, surpreendido dentro dela sem a ter vivido, eu era mais o feto - e, sendo o feto, o inocente na exacta significação do termo. Nenhuma culpa me perturbava, e se o olhar dos homens, posto sobre mim, tinha por vezes brilhos acusadores, nem eles saberiam explicar completamente esse facto. ..."

"... O desenho informe, e no entanto claro, de uma alma desordenada; ...
... Subitamente lembro-me:
são as tuas mãos, os livros que nunca li, os sinais amontoados na sucessão
dos dias e das noites, a vertiginosa descida da gaivota em direcção ao mar.
Há quanto tempo, pois, me afasto da interminável vida, preso à obsessão da morte,
à presença fixa do desespero em cada olhar doente que fixo..."

"...Ser é um corpo que o efémero transforma. ..."

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.