"Tão criticável é quem corrompe como quem é corrompido", leio no Diário Económco de hoje, numa entrevista de 2003 com Jorge Sampaio.
Não estou de acordo: os empresários são pagos para gerir empresas e gerar lucros para os seus accionistas, não para moralizar a vida pública de um país. Essa tarefa incube, entre outras, aos políticos. Já paguei caro não corromper funcionários públicos. Foi um erro, tanto para mim como para o país: se o tivesse feito, talvez a empresa hoje existisse e pagasse impostos e desse trabalho a muitas pessoas que pagariam, elas também, impostos. Talvez não pagasse impostos, ou não os pagasse todos, ou os pagasse sob a forma de corrupção de funcionários públicos: pouco interessa - os trabalhadores pagariam de certeza, que não poderiam fugir; e pelo menos geraria riqueza - inclusive para o funcionário corrompido, que provavelmente a dilapidaria em bons restaurantes e numa quarta vivenda, ajudando assim a economia nacional.
Assim, o funcionário público que me explicou, queixoso, que o BMW da mulher tinha tido uma avaria fatal:
a) não licenciou o meu barco, provocando o fecho da empresa;
b) arranjou quem lhe pagasse um BMW, ou o que quer que fosse (durante um certo período a sua especialidade eram vigias em bronze, que revendia em Paris);
c) continuou no activo por mais uns anos, a exigir quantias cada vez maiores.
Se eu lhe tivesse pago o carro, o que mudaria? Nada, excepto a alínea a). Além disso, descriminalizando a corrupção activa, facilitar-se-iam as delações, único método eficaz para desmascarar a corrupção... ooops, único? Não: claro que a melhor maneira seria simplificar a absurda estrutura legislativa que temos - mas isso exigiria coisas impossíveis: não sonhemos com ladrões.
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