Um poeta português, Manuel Gusmão, fala num dos seus textos da "longa ausência do mar". Não é, obviamente, essa a sua intenção, nem a isso que ele se referia, mas não consigo, cada vez que leio aquele poema, deixar de juntar "da política portuguesa" àquela bela expressão.
O mar está, naturalmente, ausente da política portuguesa porque está ausente do imaginário português, há muitos anos. De um país de marinheiros, de um país que revia o seu presente e inventava o seu futuro no mar, tornámo-nos um país de emigrantes "a salto": a Europa, que nós ajudamos a inventar e a quem démos muita da forma que tem, ultrapassou-nos, deixou-nos para trás.
Não sou historiador, sou marinheiro; e é nessa qualidade que imagino que muito do nosso declínio começou com o abandono do mar como projecto, como vector de futuro.
Tal como a personagem do poema com que comecei estas linhas, vivemos "num deserto, num deserto rodeado por uma longa ausência de mar", "à procura de uma saída que dê para a vida".
Essa saida é o mar. Ele foi no passado o nosso futuro, e deve ser hoje o nosso presente, e o futuro do nosso futuro.
Portugal tem à sua volta uma vasta mina de ouro - azul, mas ouro tout de même.
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