29.11.05

Serenidade

Ontem vi um post de que gostei bastante; e, sobretudo, que entendo muito, muito bem. Chama-se "Serenidade"
e está aqui.

Bancos

Consciente da importância das PMEs para o desenvolvimento económco e social de um país, a banca portuguesa desenvolveu um moderníssimo e preciosíssimo instrumento de análise de risco para esse tipo de empresas: chama-se NÃO.

Há uma excepção: se a PME for do ramo da cosntrução civil, o modelo a aplicar chama-se SIM SIM SIM. O resultado está à vista.

PS - Se alguém tiver a tentação de me dizer que a função da Banca não é promover o desenvolvimento económico e social de um país, e que os Bancos devem limitar-se a aproveitar o quadro jurídico criado pelos Governos para maximizarem os benefícios dos seus accionistas, pode ficar calado: eu sei e concordo. Mas para onde iria a literatura, sem a má-fé?

Sono

Se dormir fosse bom, dormir para sempre seria melhor.

26.11.05

Noites

Era assim que passava as noites: bebia música, bebia água, bebia, bebia-te.

Beber

Agora vou para casa e vou beber, de novo, o licor que há anos fizeste, e há anos me ofereceste. Ou seja: vou beber um pouco de tempo.

Gostos

Há palavras de que gosto muito. Uma delas é "concupiscente". Faz-me pensar em "cuspo" e "sente"; é um pentassílabo, ela mesma uma palavra bonita. E é pouco utilizada, infelizmente.

Tolerâncias

Deve haver uma quantidade fixa de falhanços que uma pessoa pode suportar. Como de sucessos, aliás: um como outro são igualmente perniciosos.

Parafraseando

"Não deixe que o real se interponha entre si e os seus objectivos".

24.11.05

Sede - II

O licor que há anos me ofereceste, e que na altura não apreciei muito, está divino. Havia uma dureza que se evaporou, se transmutou em doçura, e sabor. Como eu, repara: tenho quase esta idade toda e ainda espero que, como o teu licor, a vida se me torne mais suave.

Mais doce, percebes? Menos amarga, menos como um café que se deixou queimar, menos como chuva fria numa cabeça a descoberto.

Sede

Hoje bebo-te, metaforicamente; e lembro-me dos dias em que te bebia, literalmente: bebi-te o sangue, bebi-te o suor, e bebi-te as lágrimas, tantas e tão grandes.

Diálogos possíveis

- Qual é a chave para a tua vida?
- O poder.
- ?
- Cada vez que o tive tive sucesso no que empreendi, e cada vez que não o tive falhei.
- Miseravelmente, aliás.

Poliglota

Mais do que "quantas línguas falas?", a questão devia ser "quantas línguas escreves?".

O tempo e o amor

Só a amei enquanto fui jovem - mas a verdade é que fui jovem a maior parte da minha vida.

23.11.05

Ausência

Ela estava sempre ausente, como os sonhos e os fantasmas.

21.11.05

Memória

Cada vez que me lembro de ti, toco-te, e sou tocado. Ter-te conhecido é um privilégio de Deuses, ou de sapos encantados.

19.11.05

Subvenções

Receberam subvenções por causa da seca; em breve irão receber subvenções por causa do excesso de chuva. E alguma vez receberão subvenções porque não houve nem seca nem excesso de chuva.

PT Match Cup - II

PT Match Cup

Odisseia - II

"No vasto dorso do mar";
"Não é logo que se muda a mente dos deuses que são para sempre";
"Sagradas hecatombes" - (referindo-se a sacrifícios aos deuses).

Se eu soubesse escever assim, isto seria uma autobiografia...

Excesso

Ele amava-a tanto que tinha, ele próprio, dificuldade em suportar tanto amor. Ela aguentava-os como podia, a ele e ao amor dele.

Um dia matou-se: não por excesso de amor, mas por excesso de peso.

A questão, claro, é saber quem se matou, nesta história. O que é mais difícil de suportar: dar em demasia, ou receber?

Vento

"Está vento, e frio. Desagradável", resume a senhora sentada ao meu lado no balcão da Casa do Largo.

Permita-me discordar, minha senhora, agora que se foi embora e eu também: "O frio é desagradável, por vezes. Não é o caso em Cascais, nem hoje; mas o vento? Desagradável, o vento? Não acho. O vento é o que nos liga ao mundo, o que nos lembra que o que não vemos não é vazio, é o que nos traz os cheiros da terra quando estamos no mar, o que nos leva para a terra ou dela nos afasta, o que nos aconchega quando sozinhos caminhamos pela rua e nos abraça quando estamos acompanhados. O vento não é desagradável, excepto quando, como tudo o que é bom, é demais, ou ausente - o que não é o caso hoje, seja Deus agraciado".

18.11.05

Odisseia

Foi preciso chegar a tradução de Frederico Lourenço para perceber, finalmente, o gozo intenso, o prazer ilimitado, a surpresa constante que é a Odisseia.

Genealogia

Tenho estado a ler um livro do Vasco Graça Moura ("Atrás da Magnólia", ou coisa que o valha), e a Odisseia, na tradução de Frederico Lourenço. Gosto mais da "Odisseia": as geneologias são mais fáceis de seguir.

Lógicas

Ele há, desde os tempos do liceu que o sabemos, lógicas e lógicas. Avaliem esta:

Imagine que:

a) Descobre em si uma veia de marinheiro e necessita absolutamente de a manifestar de qualquer forma; compra um bote insuflável e põe-lhe um motor fora-de-borda de 10 CV (isto é o equivalente náutico de uma daquelas trotinetas com motor elétrico que os ricos dão aos filhos e com que os professores universitários se passeiam pelos campus) - tem que ter um seguro de responsabilidade civil no valor de 250,000 euros;

b) É um profissional da marinha de recreio, e tem uma lancha de 15 metros com um motor de 500 CV para Actividades Marítimo-Turísticas - ou seja um BMW médio de gama que, acresce, sai frequentemente (espera-se): o valor da responsabilidade civil desce para 100,000 euros;

c) É pescador e tem um arrastão de 20 metros com um motor de 2,000 CV (sai todos os dias num Caterpillar) - não precisa de responsabilidade civil.

Agora digam-me: se isto fosse num país africano, que diríamos nós daqueles "tolos daqueles pretos"?

(A verdade é que isto passa-se num país africano, só que não está em África, está na Europa).

15.11.05

Amizade

Será que as amizades têm, como os casamentos, um tempo de vida útil, para lá do qual é inútil tentar prolongá-las?

12.11.05

Conselho

Vai dormir, ou afogar-te.

Pergunta - II

Já alguma vez te disse como era fácil amar-te? - Como foi fácil amar-te, e difícil deixar de te amar? Não ligues.

Solidão

A verdadeira solidão é quando descobres que precisas de novos amigos.

Sorry

Vou dizer-te a verdade: não quero ouvir.

11.11.05

Pergunta

Que dirias, hoje, se quisesses estabelecer conversa com uma senhora jovem, e bonita? - Estou constipado, constipado da ponta do nariz até ao fundo da alma. Cada vez que espirro saiem-me 40 anos de erros cometidos, e se Deus quiser a cometer. Não me julgues pela ponta do nariz, pingante e vermelha, nem pelo desânimo, pegajoso.

5.11.05

Dia

Estava um dia lindo, frisado como os cabelos de algumas jovens africanas que por vezes conheci.

4.11.05

Lapidar...

...(o termo é apropriado) é o editorial de José Manuel Fernandes de hoje no Público. Refere-se aos presentes distúrbios em Paris: como dizem os fanceses, o caminho do inferno está pavimentado de boas intenções. Neste caso, "os equívocos do politicamente correcto" e "a total confusão de valores". A ler, absolutamente.

Não é o mais importante do artigo, mas não resisto a citar uma pequena pérola: "Pior, se algum dia o mal-estar francês pode ser explicado pela existência de umma "fractura social" - o que não deixaria de constituir uma paradoxal contradição com o discurso gaulês sobre o seu exemplar "modelo social"..."

Um modelo social que produz uma quantidade não negligenciável de desempregados, estas regulares explosões de violência totalmente injustificáveis, um partido de extrema-direita que passa à segunda volta das presidenciais...

3.11.05

Silêncio

Parecia um personagem fugido de um quadro de Hopper; o silêncio escorria por ele como gotas de chuva num dia de vento.

2.11.05

Dueto improvável?

Não tenho a certeza, Helena.

"Mútua antipatia no plano da anatomia.
Alguma simpatia no sector da fisiologia.
Alguma simpatia no capítulo da axiologia estética.
Recíproca empatia ao nível da gnosiologia/epistemologia."

Ciências exactas e ciências humanas

Algumas leis vindas da física, aplicadas às ciências humanas, transformariam estas em ciências tão exactas como aquelas.

A lei da gravitação universal, por exemplo (dois corpos atraem-se na razão directa das suas massas, e inversa do quadrado das distâncias) - inteligência? personalidade? envergadura? Qual quê! É o quadrado da distância, minha querida, que determina o resultado. Ou a segunda lei da termodinâmica, inesgotável fonte de analogias em todas as áreas da actividade humana.

Isto para não falar, claro de alguns postulados Euclidianos, como aquele que fala dos dois pontos e da recta que os une, ou coisa assim. [É uma coisa assim - uma linha recta pode ser desenhada de forma a unir quaisquer dois pontos.]

Prece

O meu reino por dois dedos de testa, e dois de beleza, juntas.

1.11.05

Cansaço

Há, como sabes, vários tipos de cansaço; e aquele que se sente depois de algumas horas no mar é um dos melhores, quase tão bom como o de depois de ti.

A memória, ainda

Por vezes - muitas vezes - penso no teu longo ventre liso como um lago grande e largo, onde tantas vezes naveguei, tantas tempestades.

Descoberta

"I scarcely know where to begin, though I sometimes facetiously place the cause of it all to Charley Furuseth’s credit. He kept a summer cottage in Mill Valley, under the shadow of Mount Tamalpais, and never occupied it except when he loafed through the winter mouths and read Nietzsche and Schopenhauer to rest his brain. When summer came on, he elected to sweat out a hot and dusty existence in the city and to toil incessantly. Had it not been my custom to run up to see him every Saturday afternoon and to stop over till Monday morning, this particular January Monday morning would not have found me afloat on San Francisco Bay."

Assim começa um dos livros mais fascinantes que li - ou pelo menos um dos que mais me fascinou. Descobriu-o hoje na net. Abençoada net.

E já que estamos nisto, aqui fica outro.

Distância

Acho indecente, sabes?, que vivas tão longe. A beleza deve estar perto, ao alcance da mão, e a inteligência dos lábios.

Serviço Público - Discos

"Jumping the Creek", Charles Lloyd, ECM 2005. O melhor disco em muito, muito tempo.

Post demagógico

Deve haver, nos meus neurónios - em cada um deles - um receptor para o teu nome, para a memória de ti.

Dias felizes

Os dias felizes eram tão raros que lhe apetecia celebrá-los indo navegar - o que os tornava ainda mais felizes, numa espiral cuja única analogia é o chá; não: são os sentidos.

Explicações

É tão difícil, e tão inútil, explicar porque se gosta de uma cara como o é explicar porque se gosta de um bom charuto, um bom whisky, um bom livro, uma boa música.