31.5.06

Diálogos possíveis

- Porque trabalhas tu tanto?
- Porque gosto muito do que faço.
- Mais um amor não correspondido...

25.5.06

O fim da história

Não se pode dizer que a memória se dissipa: sais-me do corpo, do coração, mas não da mente. E, cada vez que vejo uma cabeleira loira mais alta que as outras, um corpo alto e esguio e belo como o de uma estátua dessas que comemoram um feito da humanidade, ou a igualdade, ou a justiça, sei lá, tudo coisas pelas quais lutas e nas quais acreditas, ainda sobressalto.

O aeroporto já não me parece vazio porque não vieste esperar-me, ou trazer-me; tal como a cidade, de resto. Ontem fui comer a um restaurante onde tantas vezes fomos; e passeei pelas ruas e vielas que me mostraste. Não foi tristeza o que senti; nostalgia, talvez. Queria comprar-te flores, mandar entregar-tas em casa, mas não tive tempo. Fica para a próxima.

Assim saímos da vida um do outro - se calhar, como nelas entrámos: devagar, sem amanhãs e sem ontens, sem grandes expectativas nem grandes medos: foi uma história bela porque tu és bela, rica por causa do teu humor e bonita por causa da tua inteligência. Uma história por ti e para ti.

20.5.06

Doca do Espanhol




A fotografia está sobre-exposta, contrastada, quase ilegível. É assim que gosto dela, é assim que foi tirada. A Doca do Espanhol era utilizada para os treinos de remo porque nela se podia medir um quilómetro.

Doca do Espanhol (re-post)




Fui muitas vezes, em criança, esperar o meu pai a este mesmo sítio da Doca do Espanhol. A sede da companhia (Sociedade Geral) era por trás do guindaste onde este senhor está sentado, e os navios da SG atracavam aí. Não sei porque se chama "Doca do Espanhol"; durante muito tempo, quando me falavam na Doca de Alcântara, não sabia que era esta, verosimilmente a primeira doca que vi, e de certeza a primeira de que tenho memória.

Vi muitas mais, depois - e em todas havia um senhor asssim, sentado, a olhar para um navio e a pensar "que faço aqui?".

Do outro lado, outro mundo




As montanhas do Riff vistas de Gibraltar, com o inevitável navio a passar pelo Estreito.

Na minha primeira viagem como jovem oficial da marinha mercante tive a sorte de passar por todos os pontos míticos da navegação marítima: (por ordem) o canal do Panamá, o canal de Suez, o Bósforo e o estreito de Gibraltar, de todos o único que conhecia. Gibraltar não tem a carga mítica de nenhum dos outros - mas é, já era, voltou a ser um dos lugares da minha memória. E nada há de mais pesado que a memória.

Mais tarde passei pelo cabo da Boa Esperança, num navio velho, lento, a cair de podre - foi a sua última viagem, de resto. Falta o Horn, que quero passar à vela, e o Leewin, idem.

Fotografia de Júlio Quirino.

O fim do quarto




A bordo de uma embarcação há dois tipos de tripulantes: os que "dão oito horas ao navio" e os "de quarto" (o comandante está, naturalmente, fora desta classificação, mesmo que faça quartos). Estes, períodos de 4 horas, são os seguintes:

Das 0000 às 0400 e das 1200 às 1600: terceiro quarto;
Das 0400 às 0800 e das 1600 às 2000: segundo quarto;
Das 0800 às 1200 e das 2000 às 2400: primeiro quarto.

As designações de "primeiro, segundo e terceiro" quarto referem-se ao oficial que deles é responsável: terceiro quarto é o do terceiro piloto, porque é o pior e mais desconfortável; segundo quarto o do imediato, porque é ele o encarregue da navegação; primeiro quarto o do comandante (ou primeiro piloto, se o comandante não fizer quartos), porque é o melhor e é o que apanha a meridiana, que permite calcular a singradura do navio (distância navegada de meio-dia a meio-dia) e determinar as ordens para a próxima singradura.

Numa embarcação de vela e em regime de cruzeiro os quartos são mais curtos (duas ou três horas, geralmente), menos rígidos e muito, muito mais cansativos - como esta bela fotografia da Lena pelo Júlio Quirino tão bem documenta.

Nós




Fotografia de Júlio Quirino

O escorrega dos deuses




Pelo menos, de alguns...

(Fotografia de Júlio Quirino)

Em Julho. Em Portimão.










Multi Cup 60' Cafe Ambassador
I Grand Prix de Portugal - Portimão, de 13 a 16 de Julho.

As mais eficazes, mais velozes, mais espectaculares máquinas de navegar à vela vão estar em Portimão de 13 a 16 de Julho para o primeiro Grand Prix de Multicascos Open 60' jamais realizado em Portugal.

The Rock




Vi esta imagem pela primeira vez há trinta anos. A magia é a mesma: o Rochedo contra a luz do sol nascente, a esperança de que aquilo nunca deixe de ser inglês, a ideia de que para lá fica um outro mar, tão diferente do Atlântico, que é duro e honesto. O Mediterrâneo é traiçoeiro, de extremos ("do motor para o estai de tempo e deste para o motor outra vez, em menos de uma hora"), e começa - ou acaba - aqui, em Gibraltar.

Tal como o mundo já começou, e acabou, aqui.

Fotografia de Júlio Quirino.

12.5.06

Dedicatória

"A perfeição, querida, é muito difícil de encontrar; e dar-lhe as mãos é ainda mais difícil. Satisfaçamo-nos com o bom, que é a sua forma humana..."

Um amor de blog

E foi preciso chegar a esta idade para descobrir que isto é uma grande verdade...

4.5.06

Pachorra

"Pachorra" é uma palavra bonita. E "não há pachorra" uma expressão ainda mais bonita, tanto mais que é, oh quantas vezes, tão verdadeira, tão justa.

Oração

Protege-me, Deus, da estupidez, que é a única coisa com a qual não sei lidar.

3.5.06

Pena

A pena é um sentimento difícil de exprimir, ou pelo menos tornar credível. Talvez por isso dizemos tantas vezes que não lamentamos nada...