Chegamos a uma certa idade e deixamos de acreditar em algumas coisas, e de dar importância a outras, a maioria. A bagagem emocional, por exemplo, termo que detesto mas que exprime tão bem o que quero dizer, não pode ser deixada à porta do avião, quando desembarcamos numa cidade que em muito contribui para o peso da dita, ou maldita, bagagem. E uma cidade na qual vadiamos cheios de memórias, tristezas, alegrias e desejos (os constituintes básicos da bagagem emocional) não é a mesma – não é melhor nem pior, é simplesmente diferente - dessa cidade antes da última mala se ter encavalitado no já periclitante amontoado de malas, sacos, contentores e carrinhos de supermercado que a vida (e quanto mais vida mais bagagem) nos foi deixando à consignação. E contra isso pouco há a fazer, ou nada.
Chegamos a uma certa idade e compreendemos que devemos acreditar nas nossas intuições. Ao diabo a elaboração de grandes estruturas, a construção de andaimos de palavras e ideias com os quais tentamos explicar o que ou já há muito está explicado, ou não tem explicação sequer. Os grandes erros da nossa vida nasceram de não termos dado ouvidos à nossa intuição – e a nossa intuição raramente nos engana (os factos sim, às vezes, mas isso é outra história).
Chegamos a uma cidade que conhecemos bem, a um porto onde já estivemos, onde fomos felizes, infelizes ou – mais frequentemente – os dois e sabemos imediatamente com quem gostaríamos de estar. E sabêmo-lo intuitivamente, não precisamos de grandes explicações. Quantas amizades, quantos amores nasceram do acaso, de uma palavra ou duas? Quantos?
Chegamos a uma certa idade e aprendemos a nada esperar do amor – não que ele não tenha nada para nos dar – tem, e muito - mas porque sabemos que tanto pode dar como não dar, correr bem como não correr; um amor tem tantas probabilidades de ser o bom como de não ser (ou de não chegar sequer a ser amor). E se for bom é uma dádiva, uma sorte, um gesto de boa vontade dos deuses – não o é porque nós quisemos, ou pensámos ou falámos ou escrevemos muito, ou porque o olhar da senhora (no meu caso, mas penso que se aplica a outros casos) é assim ou assado, ou porque ela tem um “jeito especial de andar”. Isso são razões que inventamos a posteriori para justificar a nossa intuição.
Com a idade, chegamos a uma cidade, a um porto, a uma embarcação, a um mar, a um amor ou uma amizade, e sabemos imediatamente se a viagem é boa ou má, se é rica ou inútil, se vale a pena continuar e lutar ou não. Mas esse é um dom que nos é emprestado pelos anos, não mais. Nem sequer é dado, porque quantas vezes não o aproveitamos?
Com a idade, sabemos que há poucos não-ditos, porque quase tudo é dito, sempre – de uma maneira ou de outra. E é por isso que com a idade, perdemos o medo de dizer, e perdemos o medo de acreditar na intuição; e é por isso que a idade é magnífica. Basta querer.
E com a idade aprendemos também a lidar com a desilusão, que desaparece (se bem que por vezes fique uma leve pena, muito leve). No fundo, sabemos que não sabemos o que estamos a perder: o amor, a amizade, uma viagem – a vida - é como uma lotaria da qual não conhecemos o prémio. E se ganharmos, tanto melhor – a vitória é mais saborosa; se perdermos, o desgosto curar-se-á com um bom whisky, um bom Alexander, ou um bom livro.
Este post é dedicado ao Don Vivo, que em breve completa 3 anos.
Chegamos a uma certa idade e compreendemos que devemos acreditar nas nossas intuições. Ao diabo a elaboração de grandes estruturas, a construção de andaimos de palavras e ideias com os quais tentamos explicar o que ou já há muito está explicado, ou não tem explicação sequer. Os grandes erros da nossa vida nasceram de não termos dado ouvidos à nossa intuição – e a nossa intuição raramente nos engana (os factos sim, às vezes, mas isso é outra história).
Chegamos a uma cidade que conhecemos bem, a um porto onde já estivemos, onde fomos felizes, infelizes ou – mais frequentemente – os dois e sabemos imediatamente com quem gostaríamos de estar. E sabêmo-lo intuitivamente, não precisamos de grandes explicações. Quantas amizades, quantos amores nasceram do acaso, de uma palavra ou duas? Quantos?
Chegamos a uma certa idade e aprendemos a nada esperar do amor – não que ele não tenha nada para nos dar – tem, e muito - mas porque sabemos que tanto pode dar como não dar, correr bem como não correr; um amor tem tantas probabilidades de ser o bom como de não ser (ou de não chegar sequer a ser amor). E se for bom é uma dádiva, uma sorte, um gesto de boa vontade dos deuses – não o é porque nós quisemos, ou pensámos ou falámos ou escrevemos muito, ou porque o olhar da senhora (no meu caso, mas penso que se aplica a outros casos) é assim ou assado, ou porque ela tem um “jeito especial de andar”. Isso são razões que inventamos a posteriori para justificar a nossa intuição.
Com a idade, chegamos a uma cidade, a um porto, a uma embarcação, a um mar, a um amor ou uma amizade, e sabemos imediatamente se a viagem é boa ou má, se é rica ou inútil, se vale a pena continuar e lutar ou não. Mas esse é um dom que nos é emprestado pelos anos, não mais. Nem sequer é dado, porque quantas vezes não o aproveitamos?
Com a idade, sabemos que há poucos não-ditos, porque quase tudo é dito, sempre – de uma maneira ou de outra. E é por isso que com a idade, perdemos o medo de dizer, e perdemos o medo de acreditar na intuição; e é por isso que a idade é magnífica. Basta querer.
E com a idade aprendemos também a lidar com a desilusão, que desaparece (se bem que por vezes fique uma leve pena, muito leve). No fundo, sabemos que não sabemos o que estamos a perder: o amor, a amizade, uma viagem – a vida - é como uma lotaria da qual não conhecemos o prémio. E se ganharmos, tanto melhor – a vitória é mais saborosa; se perdermos, o desgosto curar-se-á com um bom whisky, um bom Alexander, ou um bom livro.
Este post é dedicado ao Don Vivo, que em breve completa 3 anos.
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.