Uma das coisas que sempre me fascinou na burocracia portugesa foi o que fazem "eles"de tanto papel? Para onde é que vai tanta informação?
Nos tempos em que à chegada a um porto era necessário "dar entrada" da embarcação - e "dar entrada" consistia em preencher aquilo que eram basicamente os mesmos papéis na Alfândega, na Polícia Marítima e na Capitania (completos, com nomes, apelidos, nº dos BIs, nº dos motores, nº das velas, cor do casco, local de construção, de onde vem e para onde vai, etc. etc.) - e à largada ia-se aos mesmos sítios, frequentemente longe uns dos outros, "dar saída", eu telefonei para uma Capitana a saber se determinada embarcação já tinha chegado. A resposta veio, pronta: "Não". O barco tinha chegado meia dúzia de horas antes.
Hoje encontrei uma amiga que procura o nome do proprietário de uma ruína qualquer, porque a quer comprar e renovar. O objectivo tem, reconheça-se, mérito. Mas ela começou por ir à Conservatória do Registo Predial, onde descobriram que a casa pertencia a dois proprietários. Infelizmente não lhe pdiam dar os nomes sem a "qualquer coisa matriz", e disseram-lhe para ela ir à Câmara Municipal saber essa tal matriz; na Câmara Municipal (de Cascais, mas aposto que anedotas destas ocorrem em todo o lado), disseram-lhe que tinha de ir às Finanças. Encontrei-a a caminho das Finanças, e fui com ela para a ajudar, porque ela não é portuguesa. Aí disseram-lhe que para lhe dar a tal de "matriz" pprecisavam do nome do ou dos proprietários, e aconselharam-na a ir à Câmara Municipal ou à Conservatória do Registo Predial.
Quando se sabe a burocracia que comprar e registar uma casa envolve, a pergunta faz, parece-me, sentido: que raio de carga de água fazem eles de tanto papel?
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.