21.4.07

Retroactivos (Retrocativos?)

Todos nós já tivémos, penso, relações que falharam por não estarem no nível certo. Isto é: um amor que não funcionou mas que, se tivesse sido uma amizade, por exemplo, ainda aí estaria hoje, pronta para as curvas; ou, ao contrário, uma amizade que morreu, mas que se tivesse sido uma verdadeira história de amor teria feito de nós as pessoas mais perenemente felizes desta terra.

Devia haver uma ferramenta qualquer que nos permitisse "corrigir", retroactivamente, as nossas relações sentimentais passadas. Claro que aplicá-la a toda a nossa vida seria batota, e da pior: só alguns casos sentimentais mais graves (ou profundos, se preferirem) seriam elegíveis para este tratamento.

- Aquilo que nós vivemos, minha querida, e que erradamente tomámos por uma amizade rica, complexa, estimulante (e todas aquelas coisas que os adolescentes esperam, coitados, das amizades - ou dos amores...) - pois bem, deixou de ser uma amizade e transformou-se num verdadeiro e perpétuo amor. Estás de acordo? (Teria, se tal mágica varinha existisse, que se pedir a autorização do outro para a utilizar, claro. Porque senão as assimetrias, as terríveis assimetrias, manter-se-iam.)
- Um amor retroactivo?
- Sim, isso mesmo, um amor retroactivo. Ou retrocativo - mas isto é um jogo de palavras um bocado forçado.

Ou então:
- Sabes, Ana (ou Maria, Rita, Joana, Antonieta)? Aqueles dez anos que passámos juntos, a pensar que nos amávamos como se tivéssemos sido nós os inventores do amor, e que hoje desaguaram numa indiferença total...
- Sim (isto assumindo que ela ainda respondia, nem sempre é o caso).
- Pois bem, como seria hoje se, em vez de amantes perdidos, tivéssemos sido amigos amigos, daqueles...
- ...daqueles para a vida?
- Sim, isso mesmo.
- Se calhar, ainda hoje seríamos amigos.
- Talvez fosse uma amizade diferente, mas seria amizade, não achas?
- Provavelmente. - E ooops, um gesto da varinha e lá estariam os dez anos reluzentes, como novos, transformados "nos primeiros dez anos de uma amizade que já dura há vinte, ou trinta", ou seja lá o que for, depende da idade das personagens.

Pois.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.