10.3.08

Maison Tropicale

Três casas pré-fabricadas de um designer francês dos anos 50 são enviadas de França e construídas na África Colonial (Niamey, no Níger, e Brazzaville, no Congo).

Recentemente, uns "brancos" (nunca são nomeados, não têm nome, são brancos) vão a essas duas cidades, compram as casas - que estavam, basicamente, ao abandono - põem-nas em contentores de regresso a França, recuperam-nas e vendem-nas como obras de arte (que realmente são, tanto de um ponto de vista estético como de engenharia e da história).

Este é, basicamente, o tema da Exposição de Ângela Ferreira no CCB. Não estou de acordo com os pressupostos políticos da instalação (os quais são, de resto, muito mais visíveis e explícitos no filme "Maison Tropicale", que acompanha a exposição) - os brancos pilharam África durante o colonialismo e continuam a pilhá-la agora - mas acho que se deve realmente ir vê-la (incluindo o filme).

Em primeiro lugar, pela inteligência e sensibilidade com que a questão é colocada; é uma questão complexa, nada fácil, e eu imagino que para Ângela Ferreira, que tem um ponto de vista diagonalmente oposto do meu, é tão complicado responder-lhe como o é para mim. Em segundo pela qualidade estética da exposição; Ângela Ferreira tem uma capacidade de extrair dos objectos a sua essência, sejam eles os mais comuns ou os mais raros, e torná-la visível em obras de uma aparência simples, lineares - mas cuja simplicidade e linearidade traduzem perfeitamente a complexidade, a essência, dos objectos. Em terceiro, por uma razão que a certa altura do filme o director do Museu de Serralves menciona e que há muitos anos me tem chamado a atenção: África está ausente do nosso imaginário, da nossa produção artística, o que é incompreensível.

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