24.10.08

Hóspedes da Noite

Fui ao Doclisboa ver um filme sobre o Grande Hotel da Beira (não há um link específico para o filme).

Não sei que dizer. As imagens são bonitas - enfim, não se pode falar de "bonito" numa situação daquelas; são boas. A música é excelente (Chico António é, de muito longe, um dos melhores músicos de Moçambique, mesmo se por vezes os seus concertos não são grande coisa). A qualidade técnica é muito boa, também. Mas gostaria que houvesse mais depoimentos, mais explicações das pessoas: porque estão ali, para onde querem ir, como - sobretudo - como vivem aquela situação. Há alguns testemunhos mas são poucos, e penso que pouco representativos.

O filme coloca-nos na posição de voyeurs, que não seríamos se lá estivéssemos: quereríamos saber, falar, ouvir mais, muito mais. Os dois velhos que fazem a ponte com o passado são bastante tocantes, e "funcionam". As ex-colónias africanas são o único lugar do planeta em que os saudosistas têm sempre, impreterível, irrevogável, inequivocamente razão: quaisquer que tenham sido os erros, e horrores do colonialismo os de hoje são bem piores.

Mas há coisas que tive prazer em rever: o riso africano, por exemplo, capaz de transformar a pior das tragédias num ligeiro incidente anedótico; a beleza das crianças; o humor, aquela falsa naturalidade que finge tudo aceitar, as coisas mais estranhas, mais dramáticas como se fossem a mais corriqueira, vulgar, normal do mundo. E, acima de tudo, gostei de ver a sobre-humana capacidade que as sociedades africanas têm de tudo absorver, tudo digerir; do horror ao banal, da diferença absoluta à mais profunda similitude, tudo é absorvido, integrado, incluído.

(Neste post, o Corta-Fitas menciona uma reportagem da RTP sobre o Grande Hotel, mas eu não a consegui abrir, não sei se por defeito meu, do meu computador ou do site da RTP).

1 comentário:

  1. O problema deve ser do site, Luís. Também não consegui ver nada.
    Embora não conheça a realidade de que fala, não hesito em subscrever a sua opinião de que:
    - «quaisquer que tenham sido os erros e horrores do colonialismo, os de hoje são [a mim, pelo menos, parecem ser] bem piores»;
    - é «sobre-humana a capacidade que as sociedades africanas têm de tudo absorver, tudo digerir». Certos olhares espelham bem a resignação a essa necessidade.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.