O post ali abaixo, sobre a maneira de comer o chao-min num restaurante chinês (ou em casa, para quem opta pelo take away) levou-me a pensar no relativismo cultural e nos seus limites. Não sou, quem tem lido este blog sabe-o, fã do multiculturalismo: "sou tolerante, não sou relativista".
Mas penso que há um certo respeito a ter com as culturas, sobretudo em áreas pacíficas como a comida. O chao-min come-se ruidosamente - posso garantir, porque fiz a experiência, que é muito melhor assim (se bem isto seja totalmente irrelevante). Não sei se há uma linha válida para todos, ou se se deve deixar à discrição de cada um de nós - nunca consegui comer macaco, por exemplo (pelo menos sabendo que era macaco - também não consigo comer mão de vaca, de passagem seja dito).
Gosto muito de comida etíope (que se deve comer à mão) e em Genebra ia muitas vezes a um restaurante chamado la Gazelle d'Or, que já aqui mencionei de passagem, há muito tempo. Sempre comi com as mãos, a carne enrolada no "crepe" (perdõem-me os puristas, mas não me lembro dos nomes das coisas). Experiência essa que aliás me foi bastante útil em Marrocos, onde também se come com as mãos (pelo menos em certos restaurantes. Mas em Marrocos é mais desagradável porque a comida tem muitos molhos).
Um dia, no Burundi, fui convidado para uma festa em casa da comunidade etíope (para além de 10 chauffeurs de camião que eram os melhores chauffeurs de camião que jamais vi, e com quem tive o prazer e a honra de trabalhar, havia talvez uma dúzia e meia, duas dúzias de etíopes a trabalhar no humanitário). Eu era o único branco da festa. Saber comer - e, naquele caso específico, ter uma certa resistência ao piripiri (é mais do que uma "certa resistência"; na realidade adoro picantes, faço molhos das mais variadas receitas, como as malaguetas verdes à tailandesa) - foi uma mais-valia incomensurável.
Essa festa, de que se calhar já falei aqui no DV, foi outro dos grandes momentos da minha vida: os etíopes são um povo lindo e passei uma noite inesquecível (e um bocadinho assustadora também, aquela gente é toda, naturalmente, pró-tutsi e naquela altura ainda eram os hutus que mandavam).
Enfim, tudo isto para dizer que em certos momentos vale a pena conhecer as outras culturas e respeitá-las; se bem nem sempre. Parece-me aceitável que se coma etíope com garfo e faca, ou chao min sem o sorver, mesmo sabendo que se sacrifica um pouco, ou muita, qualidade. Mas deve permitir-se a quem está mais à vontade que coma seguindo as normas do país de origem da comida, e não as do país onde essa comida é degustada.
Creio, mas não tenho a certeza.
Mas penso que há um certo respeito a ter com as culturas, sobretudo em áreas pacíficas como a comida. O chao-min come-se ruidosamente - posso garantir, porque fiz a experiência, que é muito melhor assim (se bem isto seja totalmente irrelevante). Não sei se há uma linha válida para todos, ou se se deve deixar à discrição de cada um de nós - nunca consegui comer macaco, por exemplo (pelo menos sabendo que era macaco - também não consigo comer mão de vaca, de passagem seja dito).
Gosto muito de comida etíope (que se deve comer à mão) e em Genebra ia muitas vezes a um restaurante chamado la Gazelle d'Or, que já aqui mencionei de passagem, há muito tempo. Sempre comi com as mãos, a carne enrolada no "crepe" (perdõem-me os puristas, mas não me lembro dos nomes das coisas). Experiência essa que aliás me foi bastante útil em Marrocos, onde também se come com as mãos (pelo menos em certos restaurantes. Mas em Marrocos é mais desagradável porque a comida tem muitos molhos).
Um dia, no Burundi, fui convidado para uma festa em casa da comunidade etíope (para além de 10 chauffeurs de camião que eram os melhores chauffeurs de camião que jamais vi, e com quem tive o prazer e a honra de trabalhar, havia talvez uma dúzia e meia, duas dúzias de etíopes a trabalhar no humanitário). Eu era o único branco da festa. Saber comer - e, naquele caso específico, ter uma certa resistência ao piripiri (é mais do que uma "certa resistência"; na realidade adoro picantes, faço molhos das mais variadas receitas, como as malaguetas verdes à tailandesa) - foi uma mais-valia incomensurável.
Essa festa, de que se calhar já falei aqui no DV, foi outro dos grandes momentos da minha vida: os etíopes são um povo lindo e passei uma noite inesquecível (e um bocadinho assustadora também, aquela gente é toda, naturalmente, pró-tutsi e naquela altura ainda eram os hutus que mandavam).
Enfim, tudo isto para dizer que em certos momentos vale a pena conhecer as outras culturas e respeitá-las; se bem nem sempre. Parece-me aceitável que se coma etíope com garfo e faca, ou chao min sem o sorver, mesmo sabendo que se sacrifica um pouco, ou muita, qualidade. Mas deve permitir-se a quem está mais à vontade que coma seguindo as normas do país de origem da comida, e não as do país onde essa comida é degustada.
Creio, mas não tenho a certeza.
PS - fiz uma pesquisa rápida na net e o Gazelle d'Or agora apresenta-se como Eritreu. Quando comecei a lá ir a Eritreia ainda não era independente, donde a aparente confusão. Também não sei se os "meus" chauffeurs eram um ou outro: pouco importa. Eram os melhores,e e ainda hoje me comovo quando penso neles, no esforço, dedicação, profissionalismo de que davam, todos os dias, provas. Por estradas pelas quais se hesitaria em fazer passar uma bicicleta eles levavam os Mercedes de 7 toneladas, carregados até a suspensão pedir clemência de joelhos, como se estivessem a fazer um passeio de domingo com a família.
Também não tenho a certeza, Luís. Há algumas comidas e algumas confecções – mais do que formas de comer – que certamente me fariam abandonar a sala por falta de estômago. Mas nesta matéria, a minha incomodidade não gera intolerância (salvo no que toca ao sofrimento de animais). Quanto a multiculturalismos, também não sou adepta incondicional. Acho que cada casa tem as suas leis fundamentais e só deve aceitar, dentro dela, o que não as viole.
ResponderEliminarAh, prevaleceu o bom senso!
ResponderEliminarEu tenho por lema "Em Roma, sê romano", por isso defendo que se respeitem sempre os hábitos de cada cultura in loco, o que não significa que se tenha de respeitá-los fora do seu habitat natural.