8.2.09

Frio

Nunca tive tanto frio como uma noite ao largo da Figueira da Foz: tremia tanto que pensei que ia partir um dente. Não tinha roupa adequada. Ou então foi uma noite de chegada a Dunquerke, com a corrente contra, a fazer um nó de média: cheguei à entrada do canal à meia-noite ou uma da manhã, e só atraquei às seis; nessa altura tinha um casaco que era forrado a alumínio, e várias camadas de camisolas de lã, e mesmo assim o frio embrulhava cada uma das células do meu corpo como plástico um rebuçado. Na montanha nunca tive frio, porque se pode ir para casa, ou para a cama. Num barco não: é preciso ficar cá fora, e numa altura em que não havia polares nem as fibras sofisticadas que há hoje o frio era o pior dos inimigos.

De manhã, quando o sol chegava e a temperatura começava a subir começava a tirar roupa da mesma forma que a tinha vestido: camada a camada. Nos dias de verão só não tirava a pele, e assim passava o dia. Depois chegava a noite, e com ela o frio outra vez; e a força da vontade, a determinação, a teimosia. Há sítios onde o frio não chega.

1 comentário:

  1. Credo, Luis,
    já estou arrepiada...

    Vou ver se vou apanhar o solzinho da manhã ;-)

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.