5.5.09

Sono

Fazes-me perder o sono, mulher; procuro-o na tua pele, no teu olhar, no interior das tuas coxas, no lado de trás dos teus joelhos, nas raízes dos teus cabelos, nas circunvalações das tuas orelhas, na regular sucessão de pequenas colinas do teu dorso, naquela planície sem fim que é o teu ventre. Procuro-o nos dedos dos teus pés, na coivara dos teus dedos, na superfície - tão leve, tão alegre - dos teus lábios.

Procuro-o na leveza, que é o teu verdadeiro nome. E quando o sono chega é leve, finalmente.

PS - a expressão "coivara dos dedos" é de um poema brasileiro cujo autor não recordo e que li há muitos anos na revista Nova, da qual só saiu um exemplar, infelizmente. "Coivara" quer dizer incêndio. É uma palavra bonita. Como um incêndio, ou alguns dedos. Nem todos os dicionários a registam.

4 comentários:

  1. O meu, por exemplo. Passa de "coito" para "cola", sem registar "coivara". Tenho que buscar lá em casa. No Houaiss?

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  2. Não me lembro, Andrea, do dicionário a que fui procurar o termo. Não era garantidamente o Houaiss, porque nessa altura (a Nova saiu em 75 ou 76) não o conhecia.

    Entretanto vejo que o DLPO da Priberam o regista, e com três acepções.

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  3. Coivara (do tupi), refere uma pilha de troncos que não arderam totalmente durante uma queimada de mato.
    Coivarar é o acto de empilhar os ditos troncos...

    Às vezes, coiavar, resulta em belíssimas peças de Land Art.

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  4. Gosto dessa imagem, Rosa, de empilhar dedos que não ardem durante o incêndio - mas que o ateiam. Obrigado.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.