A primeira vez que tive um lampejo, fugaz - a sombra de um lampejo fugaz - de simpatia, compreensão pelos xenófobos foi em Marselha. Estava a descer a Canebière (nome que vem de canabis, das plantações de cânhamo que havia naquela área e com o qual se faziam cabos para os navios) e não vi um único restaurante "francês": era tudo tascas rascas, magrebinas, turcas, gregas. Todas elas feias e sujas. A Canebière (e as escadas St. Charles, logo antes para quem vem de comboio) são o Rossio e o Terreiro do Paço de Marselha; não gostaria, apercebi-me então e confesso-o agora, de ver a nossa Baixa inundada de tascas magrebinas a vender kebabs que mesmo eu achei, naquele dia, duvidosos.
A crise passou depressa e muito rapidamente me habituei aos kebabs, aos raki, aos ouzo, aos cheiros, sons e cores que conhecia de outras latitudes, outras histórias; à simpatia escondida atrás de uma sisudez enganadora, não sei porquê.
Hoje tive o segundo lampejo de antipatia pelos estrangeiros da minha vida. Um bocadinho menos fugaz: procurem um restaurante português em certas zonas da cidade e vão ver que não há um que não esteja submerso numa vaga de bifes, invadido por cardumes deles.
Resultado: os preços disparam; os empregados deixam de olhar para nós como amigos (ou, vá lá, cúmplices) e só nos vêem como porta-moedas pernados; as nossas mulheres, tão bonitas, desaparecem, substituídas por uma massa loira-azulada esbranquiçada.
A ASAE, sempre tão activa, devia fazer qualquer coisa rapidamente.
Devia, por exemplo, proibir doses de sardinha com 5 (cinco!) sardinhas; postas de espadarte com menos de dois centímetros e meio de espessura; menus em 54 línguas; mais de - sei lá - 10% de estrangeiros num restaurante; sim, isso: devia haver uma quota de estrangeiros por casa.
A ASAE devia ser útil e não contribuir para que os nossos restaurantes se transformem, a uma velocidade vertiginosa, em restaurantes suíços, quando os nossos salários se mantêm, eles, togoleses.
Já agora, uma ligeira pergunta: porque não me dá a legislação a possibilidade de escolher, num restaurante, se bebo aguardente caseira (e no frigorífico, por Zeus) ou "embalada", como eles dizem? Porque não posso escolher, em conhecimento de causa, entre azeite da quinta ou azeite do senhor Fulano-ou-Sicrano? porque é que o dono do restaurante onde vou comer todos os dias não me pode vender couves ou frangos ou o raio que o parta da sua criação? Desde que o cliente saiba a proveniência das coisas e assim o decida, porque há-de um monte de imbecis investidos de uma missão lixar-me o gosto e o prazer?
A crise passou depressa e muito rapidamente me habituei aos kebabs, aos raki, aos ouzo, aos cheiros, sons e cores que conhecia de outras latitudes, outras histórias; à simpatia escondida atrás de uma sisudez enganadora, não sei porquê.
Hoje tive o segundo lampejo de antipatia pelos estrangeiros da minha vida. Um bocadinho menos fugaz: procurem um restaurante português em certas zonas da cidade e vão ver que não há um que não esteja submerso numa vaga de bifes, invadido por cardumes deles.
Resultado: os preços disparam; os empregados deixam de olhar para nós como amigos (ou, vá lá, cúmplices) e só nos vêem como porta-moedas pernados; as nossas mulheres, tão bonitas, desaparecem, substituídas por uma massa loira-azulada esbranquiçada.
A ASAE, sempre tão activa, devia fazer qualquer coisa rapidamente.
Devia, por exemplo, proibir doses de sardinha com 5 (cinco!) sardinhas; postas de espadarte com menos de dois centímetros e meio de espessura; menus em 54 línguas; mais de - sei lá - 10% de estrangeiros num restaurante; sim, isso: devia haver uma quota de estrangeiros por casa.
A ASAE devia ser útil e não contribuir para que os nossos restaurantes se transformem, a uma velocidade vertiginosa, em restaurantes suíços, quando os nossos salários se mantêm, eles, togoleses.
Já agora, uma ligeira pergunta: porque não me dá a legislação a possibilidade de escolher, num restaurante, se bebo aguardente caseira (e no frigorífico, por Zeus) ou "embalada", como eles dizem? Porque não posso escolher, em conhecimento de causa, entre azeite da quinta ou azeite do senhor Fulano-ou-Sicrano? porque é que o dono do restaurante onde vou comer todos os dias não me pode vender couves ou frangos ou o raio que o parta da sua criação? Desde que o cliente saiba a proveniência das coisas e assim o decida, porque há-de um monte de imbecis investidos de uma missão lixar-me o gosto e o prazer?
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.