10.9.09

O chato

Não sei bem por onde começar; o princípio nem sempre é o melhor ponto de partida. E a verdade é que eu já ia quase no meio da refeição, num restaurante indiano da Rua da Palma que tem, quanto a mim, a decoração mais original, e gira, de todos os restaurantes étnicos que conheço em Lisboa: imita um pátio alfacinha, com eléctrico - verdadeiro e de época - a servir de balcão.

O pé direito é alto (a gastronomia nem tanto, mas isso fica para depois) e no tecto estão três ventoinhas, felizmente paradas. A refrigeração do local é assegurada por um ar condicionado que funciona mezzo mezzo. Em resumo, o sítio é agradável.

Ele (digo ele porque num grupo de seis pessoas só ele se via: pequeno, rechonchudo, careca emoldurada por cabelos brancos curtos e uma expressão que me fez pensar imediatamente "este gajo é um chato"). Não sou grande fisionomista, o que demonstra que ele o era realmente. Ainda não tinha passado da soleira da porta e já estava a apontar para as ventoinhas e a gritar para a empregada, que estava no outro canto da sala "pode ligar as ventoinhas, por favor? Ligar ventoinhas" - repetia em pidgin; naturalmente, num restaurante indiano as pessoas não podem falar português.

Quando me fui embora, a coisa continuava, no mesmo registo. Que importa o princípio?

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