15.9.09

Retratos sucintos - G.

G. era muito pequena e muito loira. Tinha os cabelos da cor de algumas folhas no Outono, dois tons antes do castanho, mas sem traço de encarnado. Não sei como explicar: isto é difícil, quase impossível. Mas os cabelos dela também o eram. Creio que nem com uma máquina fotográfica conseguiria, agora que o Kodachrome 25 acabou. Eu gostava dela porque tudo era intenso, exagerado: até a sua pequenez era exagerada. Tudo: a beleza, o sorriso, a doçura, sob a qual se escondia uma vontade de árvore no deserto - refiro-me àquelas fotografias de extensões e extensões de areia e dunas no meio das quais se vê, perdida, solitária, imóvel uma árvore. Não que ela vivesse num deserto, longe disso. Mas o sobressalto que tanta força debaixo de tanta beleza e suavidade provocavam era o mesmo.

A única diferença entre essas árvores e G. era que nela essa indomável, extraordinária força não eram imediatamente visíveis. Escondiam-se atrás de uma ombreira de cabelos loiros-quase-castanhos que lhe enquadrava os olhos azuis-quase-verdes e os traços finos, delicados, quase frágeis.

Era este "quase" que se esgueirava pelo olhar dela e me fazia ver o fundo das estrelas.

(Lembro, para o que der e vier, que estes retratos - como de resto muito do que neste blog se escreve - são ficcionados. Irremediavelmente.)

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