13.10.09

Alfabeto, tu, fonte

Sonhei que o alfabeto se desfez. Tive que refazer um, só para ti. Encontrar as letras das palavras de que és feita, que te fazem. Os meus dedos tacteavam no quarto de súbito escuro. Encontrei "medo", claro. Foi a primeira. Algumas eram fáceis: alegria, leveza, brisa, música. Outras não: custam, as palavras, quando tu és as letras, todas as letras.

As poucos aparecem: inevitável; brilho; carícia. O alfabeto recompõe-se: ágil; tensa; sensual. Reescrevo-te como és, como te vejo, como as palavras te fazem. O mundo refaz-se. Sou parte desse mundo - eu e as letras que te escrevi e com as quais tu fazes o mundo: as palavras, como os homens, têm que voltar à nascente, às origens. À fonte.

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