1.2.10

Confissão

Recentemente utilizei a palavra "panilas"; deitei no contentor do lixo doméstico as garrafas de vidro; chamei "grunho" a um preto (por acaso é um amigo, um bocadinho mais do que amigo - é um irmão. Mas enfim, é preto e eu chamei-lhe grunho); duvidei em voz alta da origem antropogénica do aquecimento global, e das suas terríveis consequências; defendi os judeus contra os palestinianos, a quem (como se não fosse suficiente) acuso de selvagens, machistas, corruptos e sabe Deus que mais; preferiria que houvesse duas grandes potências no mundo, mas a haver só uma acho melhor que sejam os EUA do que a China ou a União Soviética; e acho, digo e escrevo que os "alterglobalistas" e os "verde eufémias" são bandos de atrasados mentais, criminosos, reaccionários cujo lugar é num tribunal, a defenderem-se; só há pouco tempo comecei a gostar de árvores (ou pelo menos a ser-lhes sensível à beleza) - e foi preciso uma flor, vejam lá; e (não sei se ouso dizê-lo em público) prefiro qualquer whisky a um Licor Beirão, ou a salada.

A quem devo confessar estes pecados todos, alguém me pode dizer? Ao menos a Santa Madre Igreja tinha essa vantagem - e tem, para quem acredita: sabíamos a quem confessar os pecados. Porque isto do tribunal da opinião pública é uma chatice muito grande, acho eu (não que seja uma vítima, longe disso). Tenho um bocadinho mais de respeito pelos interditos da igreja do que pelos do zeitgeist, apesar de tão pouco lhes obedecer: prefiro saber a quem desobedeço, é tudo.

PS - e não me atrevo sequer aqui a dizer o que penso (e digo) da maioria dos Governos africanos.

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