23.2.10

Elevador da Glória

Não cabe na cabeça de ninguém cair de bicicleta num dia de chuva. Foi porém o que me aconteceu hoje de manhã. Estava atrasado e resolvi descer a Calçada da Glória. Por azar, apanhei o elevador a subir e quis desviar-me dele. Não consegui e caí. Magoei-me bastante, mas o pior foi o vexame: o elevador estava cheio, e aquela gente toda a olhar - saíram todos e precipitaram-se para mim; feriu-me mais do que a queda, claro.

Madalena começou por afastar toda a gente: "eu sou médica. É melhor afastarem-se. Eu trato dele. Senhor condutor, é melhor continuar a sua viagem". O wattman aceitou, visivelmente aliviado. Quando estávamos sozinhos disse-me "continuas o mesmo idiota, não é? Como é que te lembras de descer isto de bicicleta? Deixa-me adivinhar - estavas atrasado".

Madalena viveu comigo dez anos. Sei que não vale a pena contrariá-la, sobretudo quando tem razão. E não, não é médica: é dona de uma agência de publicidade. "Consegues levantar-te?"

Levantei-me a coxear, cheio de sangue e de óleo dos carris. Não estava atrasado: sabia que ela apanhara aquele elevador - paguei a um miúdo, filho de um amigo meu, para me dar um toque no portátil quando a visse entrar no elevador. A queda foi propositada; não funcionou: quando lhe pedi o número de telefone ela respondeu-me "nem penses nisso". O pior, como disse, foi o vexame.

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