Na cidade há um cabaret chamado Moulin Rose. O nome diz tudo. A única mulher que lá entra é Diana, uma polaca de cabelos quase brancos de tão claros e alta como uma queda de água. Tem olhos verdes, e faz amor com a seriedade que os eslavos põem em tudo o que fazem. Como se o mundo não suportasse uma gargalhada; ou um sorriso transformasse qualquer acto numa palhaçada.
Diana é grande, e os seios em proporção. Começa por me acariciar com os bicos deles, apoiada nas mãos e nos joelhos; da cabeça vai descendo metódica, lenta, meticulosamente. Quando chega àquilo a que ela chama "o submarino" já ele, "o submarino", está em posição de imersão, urgente. "O submarino vai mergulhar no meio dos icebergs" - envolve-o com aquelas duas magníficas meias-luas alvas que de iceberg só têm a cor. Depois continua até ter "o submarino" na boca.
Sempre séria, sem o mais pequeno sorriso. Às vezes parece-me que há uma placa de vidro entre nós, quando fazemos amor; não fosse a enorme ternura que põe em cada gesto, em cada acto, eu pensaria que ela se estava a aborrecer. Até que o momento de “pôr o submarino na base” chega e ela me diz "empurra-o bem, até ao fundo. Temos que o proteger dos ataques do exterior" e eu faço tudo o que posso para que ele lá fique muito tempo, muito fundo.
Diana é estudante de filosofia na Faculdade. Trabalha no Moulin Rose às quintas, sextas e sábados. O dono contratou-a por causa de um professor dela que queria seduzir. Não sei se conseguiu ou não; mas Diana está lá há mais de dois anos. Com o seu aspecto frio, distante, não incomoda a clientela; mas, como em todas as eslavas, por baixo daquela aparência escondia-se uma enorme frustração. "Nem para mim olham", queixa-se; "é como se não existisse".
Isso, e o facto de eu não ser ciumento. "Não penses que na faculdade não olham para mim"; ou "quando não estás, como pensas que faço?" "Ora, colegas não te faltam com certeza, e todos morrem de vontade de te levar para a cama", respondo-lhe. "Como podes se tão presunçoso?" "Não sou". Estou a montar um bar em Milão e viajo constantemente entre as duas cidades. Passo longos períodos fora. Diana diz-me que gosta mais de mim quando estou em Itália: "sinto-te simultaneamente mais forte e mais frágil. É por estares sem mim, ou por estares fora de casa?" "Não sei, Diana. E não me apercebo dessa mudança. Sinto-me o mesmo".
Sei que não sou. A verdade é que tenho mais vinte anos do que ela. Longe baixo as defesas. Não tenho nada que defender. Na verdade estou sempre à espera que ela me troque por um tipo mais bonito, mais magro ou mais rico ("podes escolher uma das três hipóteses, Diana, não precisam de vir todas juntas"); e fora de casa não penso muito nisso.
Estou deitado, de costas. Diana está sentada por cima de mim, virada para os meus pés. Vejo o seu corpo subir e descer, muito devagar. Não lhe vejo a face, mas sei que tem os olhos fechados, a boca ligeiramente entreaberta. Quero tocar-lhe, mas só alcanço a sua cintura. Às vezes é o contrário: ela deitada, braços abertos, pernas bem afastadas; eu por cima dela apoiado nas mãos, e não nos cotovelos. Só a minha bacia se move. Vejo-lhe os cabelos espalhados pelo lençol, sinto-a vibrar como se estivesse um bocadinho de vento na praia e ela a tiritar de frio, mas lentamente; tudo é lento, sempre. Parece-me que todas as terminações nervosas do meu corpo, todas as sinapses, dendrites, neurónios, toda a dopamina e serotonina que produzo, tudo o que no meu corpo serve para transportar ou produzir sensações se concentra naquele pedaço de carne dura, encharcada de sangue e cega de desejo, de que sinto cada milímetro; e que aquele tempo não se mede em segundos, nem em minutos, mas em vidas.
Nunca nos tocamos muito enquanto a penetro; nada daqueles engalfinhamentos que eram a norma com A, ou as verdadeiras batalhas campais em que o amor com B se tornava. A nossa vida comum – enfim, comum não é o termo. Não moramos juntos – é igual: falamos muito, discutimos ideias, livros, filmes – mas sempre em pequenas pinceladas, frases que um observador externo pensaria não terem, ou estarem, num seguimento. Envolvi-me com ela há três anos. Ao princípio não acreditava muito que conseguisse passar mais do que os dois ou três meses que eram a média naqueles tempos; mas a relação foi prosseguindo. Por vezes imaginava-me como um objecto deitado à água nas Canárias: se flutuar acabará por chegar a uma ilha qualquer das Caraíbas, seja grande ou pequeno, tenha propulsão ou não. Via-nos como esse objecto: um dia chegaríamos a uma praia qualquer; um de nós deitar-se-ia e o outro far-lhe-ia amor. Depois levantar-nos-íamos os dois, dir-nos-íamos “adeus”, e adeus. Mas não foi assim que aconteceu: não chegámos a uma praia, não nos despedimos um do outro. Antes pelo contrário. Não estávamos à deriva numa corrente; a embarcação tinha um piloto.
Tenho 45 anos, sou proprietário de um bar, e estou a abrir um novo em Milão. Conheci-a porque ela veio pedir-me trabalho. Disse-lhe que não – na realidade precisava de alguém, mas Diana provocou-me um desejo quase incontrolável desde que a vi e eu tenho por norma não tocar, nem sequer cobiçar, não desejar por actos omissões ou pensamentos uma empregada. Como tinha o número de telefone dela nessa noite convidei-a para jantar. Disse-me que não duas vezes; à terceira veio jantar, mas com a condição expressa de que “não me passasse sequer pela cabeça ir para a cama com ela”. Respondi-lhe que não lhe podia prometer que não me passaria pela cabeça; mas que ela não o veria, se tal infeliz circunstância viesse a ocorrer. Vimo-nos durante cinco meses antes de a conseguir convencer a vir passar um fim-de-semana comigo a St. Tropez, a bordo de um iate de um amigo meu. Foi no camarote, mal tínhamos acabado de chegar, que fizemos amor pela primeira vez.
Lembro-me dos pormenores todos; lembro-me da primeira vez que ela me percorreu o corpo a tocar-me apenas com o bico dos seios; da primeira felação, que ela prolongou com breves beliscões na base da glande quando sentia que eu não conseguia controlar-me mais; da primeira vez que a possuí – ou ela me possuiu, mais verosimilmente; ou nos possuímos. Lembro-me de pensar que nunca, simultaneamente, tivera tanto prazer e tão pouca necessidade de o manifestar – talvez porque no amor me adapto à parceira; ou porque ela mo impôs, não sei. Reconheço que por vezes tinha dúvidas. Perguntava-me se ela não estaria a usar-me para se masturbar. “Não poderia usar uma almofada, como as outras?”
Pouco sabia dela, então: era estudante de filosofia na Universidade local; pouco depois de me ter vindo bater à porta encontrara trabalho no “cabaret dos maricas” (era ela que assim o designava, mas só em privado. Em público dizia “dos gays”, ou “dos homossexuais”); era de origem polaca; gostava de Nietzsche e dos niilistas por causa do “moralismo”. Durante os primeiros meses pouco mais soube do que isto – e pouco mais queria saber, admito-o.
II
Casei-me cedo, aos 24 anos. Já era dono de um bar, que nessa altura estava na moda. Fui abrindo outros, sempre na nossa cidade. Fazia carradas de dinheiro, que gastava da mesma forma: nunca lhe liguei muito. O dinheiro faz-me viver, não me faz correr. Aquilo de que sempre gostei foi criar, começar qualquer coisa. Era – sou, ainda – generoso. Quando A se quis divorciar, ao fim de 12 anos de casamento, dei-lhe tudo: só fiquei com um dos bares para mim. O apartamento – 200 m2 no centro da cidade – o carro e um bar foram para ela. Vendi um restaurante e durante alguns meses dilapidei dinheiro como um marinheiro bêbedo. Depois tudo começou a correr mal. O bar saiu de moda; a família mandou-me passear – coisa que, com os amigos, só aconteceu alguns anos depois. Nunca acreditei, quando me diziam “qualquer dia não tens amigos” – para mim era compreensível que a família não aprovasse o meu estilo de vida e se vingasse agora que estava teso. Mas os amigos? Porque os perderia? Porque também se fartam – talvez um bocado (ou muito) depois da família.
Foram anos difíceis. Agarrava-me ao bar (e não só metaforicamente), que mal me dava para viver. Fui decaindo: as casas ficaram cada vez mais pequenas e piores; o vinho, pior e mais; deixei de comprar livros, discos, roupa. Não ter dinheiro tem um efeito curioso porque pensamos que somos os mesmos menos as coisas, e não é verdade: não somos os mesmos, apesar de não nos apercebermos disso. Como um gordo que se julga magro ou um feio se vê bonito ao espelho. Não somos nós próprios. Espero que o oposto não seja verdade: se ter dinheiro nos permite ser realmente o que somos conheço muita gente que ficaria melhor com menos. Mas não o ter transforma-nos. Suponho que é essa a razão pela qual não consegui manter uma mulher durante anos: conheciam-me, andávamos juntos dois meses ou três e ala que se faz tarde; desapareciam todas. Não era situação que me agradasse: apesar das aparências nunca fui muito mulherengo – ou, posto isto de outra forma, sempre fui fiel apesar de uma ou outra aventura. Para mim uma relação mede-se em anos, não em meses ou semanas. Fui feliz com a minha mulher; mas ela fartou-se da minha prodigalidade, das horas tardias, da minha aparente ausência. Arranjou um tipo qualquer, advogado ou engenheiro ou qualquer coisa do género e foi-se embora. Não liguei muito: só depois de encontrar uma série de outras mulheres me apercebi das qualidades com as quais tinha convivido e que não tinha visto. A história é clássica, eu sei. Mas se o homem aprendesse alguma coisa com o tempo as tragédias gregas hoje não fariam sentido. Se fazem, é porque continuamos iguais ao que éramos há dois mil anos.
Por isso estava tão céptico quando encontrei Diana. Por isso gosto tanto dela hoje. Não sei quanto tempo vai durar. Não sabemos nunca, sobre o que quer que seja. Gosto dela aqui, agora.
Gostarei sempre, mesmo quando já não a amar como acabo de descobrir que amo.
Diana é grande, e os seios em proporção. Começa por me acariciar com os bicos deles, apoiada nas mãos e nos joelhos; da cabeça vai descendo metódica, lenta, meticulosamente. Quando chega àquilo a que ela chama "o submarino" já ele, "o submarino", está em posição de imersão, urgente. "O submarino vai mergulhar no meio dos icebergs" - envolve-o com aquelas duas magníficas meias-luas alvas que de iceberg só têm a cor. Depois continua até ter "o submarino" na boca.
Sempre séria, sem o mais pequeno sorriso. Às vezes parece-me que há uma placa de vidro entre nós, quando fazemos amor; não fosse a enorme ternura que põe em cada gesto, em cada acto, eu pensaria que ela se estava a aborrecer. Até que o momento de “pôr o submarino na base” chega e ela me diz "empurra-o bem, até ao fundo. Temos que o proteger dos ataques do exterior" e eu faço tudo o que posso para que ele lá fique muito tempo, muito fundo.
Diana é estudante de filosofia na Faculdade. Trabalha no Moulin Rose às quintas, sextas e sábados. O dono contratou-a por causa de um professor dela que queria seduzir. Não sei se conseguiu ou não; mas Diana está lá há mais de dois anos. Com o seu aspecto frio, distante, não incomoda a clientela; mas, como em todas as eslavas, por baixo daquela aparência escondia-se uma enorme frustração. "Nem para mim olham", queixa-se; "é como se não existisse".
Isso, e o facto de eu não ser ciumento. "Não penses que na faculdade não olham para mim"; ou "quando não estás, como pensas que faço?" "Ora, colegas não te faltam com certeza, e todos morrem de vontade de te levar para a cama", respondo-lhe. "Como podes se tão presunçoso?" "Não sou". Estou a montar um bar em Milão e viajo constantemente entre as duas cidades. Passo longos períodos fora. Diana diz-me que gosta mais de mim quando estou em Itália: "sinto-te simultaneamente mais forte e mais frágil. É por estares sem mim, ou por estares fora de casa?" "Não sei, Diana. E não me apercebo dessa mudança. Sinto-me o mesmo".
Sei que não sou. A verdade é que tenho mais vinte anos do que ela. Longe baixo as defesas. Não tenho nada que defender. Na verdade estou sempre à espera que ela me troque por um tipo mais bonito, mais magro ou mais rico ("podes escolher uma das três hipóteses, Diana, não precisam de vir todas juntas"); e fora de casa não penso muito nisso.
Estou deitado, de costas. Diana está sentada por cima de mim, virada para os meus pés. Vejo o seu corpo subir e descer, muito devagar. Não lhe vejo a face, mas sei que tem os olhos fechados, a boca ligeiramente entreaberta. Quero tocar-lhe, mas só alcanço a sua cintura. Às vezes é o contrário: ela deitada, braços abertos, pernas bem afastadas; eu por cima dela apoiado nas mãos, e não nos cotovelos. Só a minha bacia se move. Vejo-lhe os cabelos espalhados pelo lençol, sinto-a vibrar como se estivesse um bocadinho de vento na praia e ela a tiritar de frio, mas lentamente; tudo é lento, sempre. Parece-me que todas as terminações nervosas do meu corpo, todas as sinapses, dendrites, neurónios, toda a dopamina e serotonina que produzo, tudo o que no meu corpo serve para transportar ou produzir sensações se concentra naquele pedaço de carne dura, encharcada de sangue e cega de desejo, de que sinto cada milímetro; e que aquele tempo não se mede em segundos, nem em minutos, mas em vidas.
Nunca nos tocamos muito enquanto a penetro; nada daqueles engalfinhamentos que eram a norma com A, ou as verdadeiras batalhas campais em que o amor com B se tornava. A nossa vida comum – enfim, comum não é o termo. Não moramos juntos – é igual: falamos muito, discutimos ideias, livros, filmes – mas sempre em pequenas pinceladas, frases que um observador externo pensaria não terem, ou estarem, num seguimento. Envolvi-me com ela há três anos. Ao princípio não acreditava muito que conseguisse passar mais do que os dois ou três meses que eram a média naqueles tempos; mas a relação foi prosseguindo. Por vezes imaginava-me como um objecto deitado à água nas Canárias: se flutuar acabará por chegar a uma ilha qualquer das Caraíbas, seja grande ou pequeno, tenha propulsão ou não. Via-nos como esse objecto: um dia chegaríamos a uma praia qualquer; um de nós deitar-se-ia e o outro far-lhe-ia amor. Depois levantar-nos-íamos os dois, dir-nos-íamos “adeus”, e adeus. Mas não foi assim que aconteceu: não chegámos a uma praia, não nos despedimos um do outro. Antes pelo contrário. Não estávamos à deriva numa corrente; a embarcação tinha um piloto.
Tenho 45 anos, sou proprietário de um bar, e estou a abrir um novo em Milão. Conheci-a porque ela veio pedir-me trabalho. Disse-lhe que não – na realidade precisava de alguém, mas Diana provocou-me um desejo quase incontrolável desde que a vi e eu tenho por norma não tocar, nem sequer cobiçar, não desejar por actos omissões ou pensamentos uma empregada. Como tinha o número de telefone dela nessa noite convidei-a para jantar. Disse-me que não duas vezes; à terceira veio jantar, mas com a condição expressa de que “não me passasse sequer pela cabeça ir para a cama com ela”. Respondi-lhe que não lhe podia prometer que não me passaria pela cabeça; mas que ela não o veria, se tal infeliz circunstância viesse a ocorrer. Vimo-nos durante cinco meses antes de a conseguir convencer a vir passar um fim-de-semana comigo a St. Tropez, a bordo de um iate de um amigo meu. Foi no camarote, mal tínhamos acabado de chegar, que fizemos amor pela primeira vez.
Lembro-me dos pormenores todos; lembro-me da primeira vez que ela me percorreu o corpo a tocar-me apenas com o bico dos seios; da primeira felação, que ela prolongou com breves beliscões na base da glande quando sentia que eu não conseguia controlar-me mais; da primeira vez que a possuí – ou ela me possuiu, mais verosimilmente; ou nos possuímos. Lembro-me de pensar que nunca, simultaneamente, tivera tanto prazer e tão pouca necessidade de o manifestar – talvez porque no amor me adapto à parceira; ou porque ela mo impôs, não sei. Reconheço que por vezes tinha dúvidas. Perguntava-me se ela não estaria a usar-me para se masturbar. “Não poderia usar uma almofada, como as outras?”
Pouco sabia dela, então: era estudante de filosofia na Universidade local; pouco depois de me ter vindo bater à porta encontrara trabalho no “cabaret dos maricas” (era ela que assim o designava, mas só em privado. Em público dizia “dos gays”, ou “dos homossexuais”); era de origem polaca; gostava de Nietzsche e dos niilistas por causa do “moralismo”. Durante os primeiros meses pouco mais soube do que isto – e pouco mais queria saber, admito-o.
II
Casei-me cedo, aos 24 anos. Já era dono de um bar, que nessa altura estava na moda. Fui abrindo outros, sempre na nossa cidade. Fazia carradas de dinheiro, que gastava da mesma forma: nunca lhe liguei muito. O dinheiro faz-me viver, não me faz correr. Aquilo de que sempre gostei foi criar, começar qualquer coisa. Era – sou, ainda – generoso. Quando A se quis divorciar, ao fim de 12 anos de casamento, dei-lhe tudo: só fiquei com um dos bares para mim. O apartamento – 200 m2 no centro da cidade – o carro e um bar foram para ela. Vendi um restaurante e durante alguns meses dilapidei dinheiro como um marinheiro bêbedo. Depois tudo começou a correr mal. O bar saiu de moda; a família mandou-me passear – coisa que, com os amigos, só aconteceu alguns anos depois. Nunca acreditei, quando me diziam “qualquer dia não tens amigos” – para mim era compreensível que a família não aprovasse o meu estilo de vida e se vingasse agora que estava teso. Mas os amigos? Porque os perderia? Porque também se fartam – talvez um bocado (ou muito) depois da família.
Foram anos difíceis. Agarrava-me ao bar (e não só metaforicamente), que mal me dava para viver. Fui decaindo: as casas ficaram cada vez mais pequenas e piores; o vinho, pior e mais; deixei de comprar livros, discos, roupa. Não ter dinheiro tem um efeito curioso porque pensamos que somos os mesmos menos as coisas, e não é verdade: não somos os mesmos, apesar de não nos apercebermos disso. Como um gordo que se julga magro ou um feio se vê bonito ao espelho. Não somos nós próprios. Espero que o oposto não seja verdade: se ter dinheiro nos permite ser realmente o que somos conheço muita gente que ficaria melhor com menos. Mas não o ter transforma-nos. Suponho que é essa a razão pela qual não consegui manter uma mulher durante anos: conheciam-me, andávamos juntos dois meses ou três e ala que se faz tarde; desapareciam todas. Não era situação que me agradasse: apesar das aparências nunca fui muito mulherengo – ou, posto isto de outra forma, sempre fui fiel apesar de uma ou outra aventura. Para mim uma relação mede-se em anos, não em meses ou semanas. Fui feliz com a minha mulher; mas ela fartou-se da minha prodigalidade, das horas tardias, da minha aparente ausência. Arranjou um tipo qualquer, advogado ou engenheiro ou qualquer coisa do género e foi-se embora. Não liguei muito: só depois de encontrar uma série de outras mulheres me apercebi das qualidades com as quais tinha convivido e que não tinha visto. A história é clássica, eu sei. Mas se o homem aprendesse alguma coisa com o tempo as tragédias gregas hoje não fariam sentido. Se fazem, é porque continuamos iguais ao que éramos há dois mil anos.
Por isso estava tão céptico quando encontrei Diana. Por isso gosto tanto dela hoje. Não sei quanto tempo vai durar. Não sabemos nunca, sobre o que quer que seja. Gosto dela aqui, agora.
Gostarei sempre, mesmo quando já não a amar como acabo de descobrir que amo.
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