9.4.10

Hildegarde

Às vezes pergunto-me o que aconteceria se as pessoas escavassem muito dentro de si próprias. Provavelmente a esmagadora maioria chegaria a Hildegarde Von Bingen. Não tem nada a ver com inconscientes colectivos, ou raízes colectivas, ou denominadores comuns. Tem a ver com humanidade. Da mesma forma que todos os homens têm duas pernas, dois braços e dois olhos todos temos uma Hildegarde von Bingen dentro de nós.

Não sei como explicar isto. Cada vez que a oiço - e agora só tenho um disco dela, mas já tive vários - parece-me que os cânticos não se dirigem a Deus, mas a si própria; Deus é um pretexto. Cantar para dentro: não porque Deus esteja no interior de cada um, mas porque o âmago de cada um é um mundo com o qual só se pode comunicar desta forma: com tempo, lentidão, sopro, mistério.

Hildegarde von Bingen é a música ideal para os Mistérios, de Hamsun, por exemplo: ambos lidam com os tréfonds (o dicionário online dá-me "profundidades". Não sei. Não me chega).

Ouvem-se estes canto sublimes e apercebemo-nos de que nada do que façamos é relevante; tudo se dilui no sublime do mundo infinito que há em nós. Um mundo do qual nós somos muito, infinitamente menos do que a ponta do iceberg. Um mundo que Hildegarde nos mostra, cuja existência nos dá a conhecer, hoje como há mil anos.

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