15.8.10

Restaurantes

Logo à noite vou procurar um restaurante para jantar. É muito chato, procurar um restaurante; mas é igualmente chato ir ao mesmo todos os dias.

Qualquer das opções tem vantagens e desvantagens, claro: quando se descobre um restaurante do qual gostamos, e nos convém sob vários pontos de vista, tendemos a ir lá várias vezes. Mas rapidamente nos cansamos; não sei porquê (não é ironia: é-me impossível, e doloroso, compreender porque nos fartamos de qualquer coisa de que gostamos). Por outro lado, procurar um lugar novo para comer é bom: faz-nos ir para lados da cidade que não conhecemos, ou mal; olhar para listas novas, comer coisas que há muito não comíamos. Mas é arriscado: o restaurante pode não ser bom, ou demasiado caro, ou outra coisa qualquer. E andar sempre à procura também cansa.

O meu sonho é encontrar um restaurante ao qual possa ir quase todos os dias: é um bocado infantil, eu sei; e vago: quantas vezes é "quase"? Porquê "quase"? Há pessoas que se acomodam muito bem com uma ou outra das opções. Eu não: gosto das duas simultaneamente.

Às vezes decido não ir comer a um restaurante. Também é bom, mas não é sustentável. Outro truque, utilizado por algumas pessoas que conheço, consiste em formar um grupo de restaurantes aos quais se vai regularmente: juntando assim a variedade à ausência de risco. É uma estratégia desprezível, por um lado; e ineficaz, por outro: o mais certo é um dia fartarmo-nos de todos os restaurantes do grupo e ter que recomeçar de zero.

Verdade seja dita, "fartar" não é o termo correcto: por um lado, nunca cortamos definitiva, realmente com um restaurante do qual gostámos. Por alguma razão gostámos dele, não é? E às vezes é bom visitar um velho conhecido, como se para nos situarmos (é uma prática corrente, por exemplo, na navegação estimada, a mais bonita de todas). Podemos dar com o nariz na porta, claro: o restaurante mudou de dono, de cidade, menu, preço, sei lá. Ou fechou, simplesmente, vá lá saber-se porquê. Por outro, cada vez que deixamos de ir a um restaurante do qual gostámos muito perdemos mais do que ele; e todas as perdas são dolorosas. Todas, sem excepção.

Não."Fartar" não é de todo o verbo correcto.

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